segunda-feira, 31 de março de 2008

Vale Grande na Páscoa




Domingo de tarde, dia de Páscoa, subi de Travancas até ao Vale Grande, ao encontro da anunciada queda de neve nas terras altas de Trás-os-Montes. Estava frio e o sol brilhava.







A caminho do Vale Grande dei comigo a interrogar-me sobre a razão do nome dado ao mais alto monte da Serra de Mairos.


Deixei o carro estacionado junto às casas desabitadas que noutros tempos dariam guarida a lavradores, comerciantes e contrabandistas. Por entre as ruínas encontra-se um pombal ainda em bom estado de conservação. Seriam as pombas fonte de alimento de moradores isolados no alto da serra?











A partir das casas em ruínas fiz o resto do caminho a pé até aos três aerogeradores situados no lado português da fronteira com a Galiza.



Próximo do mais alto dos aerogeradores passa a fronteira, aprovada nos reinados de D. Luis, rei de Portugal e de Dona Isabel II, de Espanha, por tratado de rectificação das fronteiras, assinado em 29 de Setembro de 1864 e ratificado em 4 de Novembro de 1866.





O ponto mais alto, 1088 metros, assinalado pelo marco geodésico, fica a 300 metros da linha da fronteira, em território espanhol. No marco pode ler-se, a letras vermelhas, grandes, “Na Espanha e Portugal falamos igual”. Será? Obra de nacionalista galego? De iberista?







Quando me encontrava no alto do Vale Grande, o Sol deixou de brilhar e repentinamente começou a nevar, com grande intensidade. A alegria apossou-se de mim.





Bastaram 30 minutos para que a paisagem do Vale Grande se transformasse num manto de brancura.







Mas o Sol regressou pouco depois e em pouco tempo derreteu o sonho de uma Páscoa nevada.
O município de Vilardevós, Galiza, criou um roteiro turístico e sinalizou o itinerário, denominado Ruta do Contrabando, abrangendo as aldeias galegas de Arzádegos, Vilarello, Florderrei, Terroso e Soutochao, situadas ao longo da fronteira. A iniciativa, bastante interessante, deveria merecer o apoio da Câmara e dos serviços de turismo flavienses, pois é sabido que Travancas e outras aldeias da raia ficavam na rota do contrabando.


Placa na fronteira, sinalizando o caminho do contrabando, destruída por incêndio. Que faz a cruz da Ordem do Hospital de São João ou Ordem de Malta, importante na história de Portugal, no brasão de Vilardevós? No concelho há um mosteiro, em tempos ligado à Ordem de Malta, que dava acolhimento aos peregrinos de Santiago de Compostela oriundos de Portugal por caminhos secundários. Pode ser essa a razão.




Aldeia de Travancas, à esquerda, vista a partir do Vale Grande. Em primeiro plano, as ruínas das casas que em tempos existiram no Vale Grande.

Sol e sombras. Cota de Mairos e Vale Grande vistos a partir da estrada de Feces de Cima (Galiza).







Serra de Mairos, aerogeradores e Vale Grande vistos a partir de São Cornélio, freguesia de Travancas. Uma estrada aberta nos últimos anos permite aos automobilistas deslocarem-se de Mairos à cota.
Anoitecer no Vale Grande no dia de Páscoa.