quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Neve e frio de volta!

Primeiro nevão isola aldeias da freguesia de Travancas




Que saudades, Deus meu!
Desde Domingo, dia de Santa Luzia, que a meteorologia anunciava o abaixamento da temperatura e a queda de neve, nas terras de Trás-os-Montes, situadas acima de 400 metros. Como estava sol e céu limpo, não acreditei muito na previsão mas ia desejando que a neve voltasse, durante a minha estadia na aldeia. Ela cá está a cair "branca e leve, branca e fria!"
Seis graus negativos às oito da manhã!



Às 7h30 era este o cenário que via da varanda de casa, deixado pela nevada caída durante a madrugada.


A queda de neve durante o dia, com regularidade e sem intensidade, cobriu as ruas de branco. Aderiu bem, devido à baixa temperatura, alguns graus abaixo de zero.


À conversa com a vizinha.


Saí de casa e dirigi-me ao Largo de São Bartolomeu.


No largo, havia matança. Quando cheguei, os porcos já estavam a ser chamuscados no baixo, ao lado dos tractores.


Com a pedra na mão, pronto para raspar as cevas.


Relações de vizinhança
Alheios ao frio e à neve, vizinhos entreajudam-se, à vez.


O Berto, como é chamado por amigos e familiares, não tem mãos a medir. Hoje matou mais três suínos.


Dentro, era grande a azáfama. As mulheres aparam as tripas e o bucho. Depois preparam as víceras para o butelo, alheiras e chouriças; separam o fígado, o bofe o e coração; lavam, varrem ...



Ao sair da loja, cruzei-me com a senhora de alguidar na mão. Iria ajudar à matança?


Passando pelo Lar do Senhor dos Aflitos, encontrei a Dona Libânia e outra senhora, atarefadas a fazer o almoço, porque as empregadas da cozinha tinham faltado, impedidas de chegar a Travancas, por causa da neve na estrada.



Esta casa de granito, em ruínas, fica na esquina da Rua do Cemitério e da primitiva via de saída e entrada de Travancas, na ligação da aldeia a Chaves, pela Bolideira. Impelido por um sentimento de saudade caminhei para a direita.






Tinha estado aqui em Novembro a fotografar o palheiro e as abóboras. Encanta-me a rusticidade do recanto, a ruralidade, as alfaias agrícolas, o mugido das vacas e o latido dos cães.










A caminhada na neve levou-me até à nossa últma morada. Parte de mim jaz aqui, sob este manto de brancura. Emocionado, interrogo-me sobre o sentido da vida e recordo o texto sagrado:

"Lembra-te que és pó e à terra voltarás".


Os sinos não tocaram
Estava marcada missa às nove horas da manhã, por intenção dos que partiram, mas o senhor padre Delmino não subiu ao planalto, impedido pela neve.



Ao lado da igreja, está este casarão, moribundo. A previsível demolição será uma perda irreparável, para o património edificado de Travancas. Sinto tristeza e revolta interior só de pensar, que uma das mais bonitas casas tradicionais da aldeia, irá ser deitada abaixo.



Casa da residência do padre, pertencente ao povo. O último sacerdote a habitá-la foi o senhor padre Moura. Portas cerradas e escadas que não levam a nada. Outra demolição à vista? Andar por Travancas, num dia de neve, propicia a reflexão sobre o que esta comunidade é e o que quer ser.



Casa de granito, no cimo do povo, a ser restaurada. As casas são como as pessoas, de vez em quando precisam de tratamentos para estarem bem.



Simbiose de modernidade com preservação da arquitectura tradicional. Que o exemplo frutifique!

A ronda pela aldeia terminou. Faltou-me andar pela estrada, ir ao Senhor dos Aflitos ...


Em Travancas, neve e azevinho, símbolos da quadra natalícia.

6 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Adriano,
Entro neste seu espaço e deparo-me com um Portugal profundamente sentido, um Portugal de “aguarela” extraordinariamente projectado muito para lá das fronteiras que os “nossos ilustres” eleitos fazem questão de manter vivas e fortemente aramadas.
Das abóboras pintalgadas de branco à matança do porco, que ricos postais preenchidos com temas agarrados por raízes que no Litoral coberto de cimento soam a passado, imaginam-se sem sentido e, pior ainda, querem-se banidas porque o “progresso” tem hora marcada.

Um abraço, Vitor Simões

Unknown disse...

Tio Adriano
Que maravilhoso ver este Portugal nesta época do ano, vamos aqui conhecendo um pouco desta Terra linda através de seu Blog...
Abraços nossos!!!
Cida de família

PEREYRA disse...

Obrigado ao Vítor por escrever tão bem. Cá fico à espera do seu Caminhos de Comboio!

Anónimo disse...

Caro Tio Adriano!
Aproveito dessa primeira visita do seu Blog, para lhe felicitar da qualidade dos assuntos tratados assim como das fotos colocadas, que transmitem toda a sua dimensão humana!Em Fevereiro estarei no Brasil, e irei conhecer a outra parte da sua família com a qual irei condividir outro momento único, como aquele passado em sua companhia e esposa. Beijos para vocês.
Dalva e Bruno

PEREYRA disse...

Cida, Dalva e Bruno,
Um santo e Feliz Natal para vocês, os que estão nas terras de Pindorama!

Esmeralda disse...

Olá
Emocionada por vários motivos...
Abraço-te a ti e à Neusa com muita ternura.
Esmeralda