terça-feira, 30 de março de 2010

Domingo de Ramos

Benção de Ramos e missa

O Domingo de Ramos, na liturgia católica, evoca a entrada de Jesus em Jerusalém, onde uma multidão o saúda com ramos de palmeira e o aclama dizendo: "Hosana! Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o rei de Israel!"


Em Travancas, desde há alguns anos que a benção dos ramos é feita no largo ao lado do Lar do Senhor dos Aflitos, para possibilitar a participação dos idosos a viver no lar.


Apesar de na cerimónia participarem paroquianos de Argemil, São Cornélio e Travancas...





Apesar de não chover, não fazer demasiado frio e de a hora de início da cerimónia, 10h45, ser boa para os menos madrugadores, fiquei com a ideia que este ano havia menos povo no largo, na procissão e dentro da igreja.


Os de Paradela bem pedem ao senhor padre para mudar a hora da missa de Ramos para mais tarde mas os de Travancas não parecem inclinados a fazer-lhes o jeito, alternando com eles a hora.


Encontrei o meu amiguinho!
O menino, agora no ciclo, veio ter comigo a dizer-me, satisfeito, que lhe tinham mostrado a foto do avô materno no blogue de Travancas da Raia. Entretido a tirar fotos não lhe dei muita atenção - nem lhe perguntei sequer como iam os seus estudos - mas fiquei agradado com a oferta do rebuçado que tirou do ramo.
Ainda gostava de saber como se enraíza entre nós a tradição de levar o ramo aos padrinhos e como este costume se relaciona com o Domingo de Ramos.

Boa disposição no final do dever cristão cumprido!

Os ramos benzidos são guardados para proteger a casa, uma mistura de prática cristã com superstição pagã.


São várias as crianças que carregam os ramos, sempre bem enfeitados.  Elas são a garantia de que as novas gerações vão render as mais velhas na manutenção da tradição.


Bonito ramo enfeitado com rebuçados e euros de chocolate.



Obrigado
Ao regressar da missa encontrei este ramo de oliveira à porta de casa. O meu bem haja a quem o lá deixou.

Uma perspetiva do Largo de São Bartolomeu

domingo, 21 de março de 2010

Chegou a Primavera

Mas a invernia continua depois de bonito dia de sol


O primeiro dia de primavera, sem ser um dia de calor, - temperatura entre dois e nove graus -  trouxe céu azul e muito sol a Travancas. Como que a saudar o tempo primaveril, foram muitos os homens a sair de casa e a juntar-se, à conversa, nas proximidades do Café Central.  Para quem gosta de Vivaldi e quiser ouvir La Primavera, clicar aqui.


A chegada da Primavera também trouxe as primeiras flores. Na transição de estações do ano o narciso é a primeira planta não silvestre a florir na aldeia mais alta do concelho de Chaves. Desabrolha em qualquer canto, quase que de forma endémica.


Sem poder passear de bicicleta, fui até à Feira do Lázaro, em Verim, na vizinha Galiza. À saída de Travancas encontrei estes simpáticos ruminantes a comer o centeio.


Antes, numa ronda pela aldeia à procura de flores, descobri primaveras brancas junto à nogueira do largo de São Bartolomeu. À volta do santuário do Senhor dos Aflitos também há muitas. É um elixir para os olhos percorrer com a vista o bonito tapete relvado, coberto de primaveras floridas. Estas plantas silvestres, também cultivadas em viveiros, dão-se bem nos lameiros e em terrenos com bastante humidade. Florescem até final do Verão.



Outra planta campestre que floresce nesta época do ano é flor que se vê na foto, em tonalidades de azul ou branca. Desconheço o nome que o povo lhe dá. É uma planta rasteira. Nasce nas bermas dos caminhos e alastra em terrenos de poula.


Primavera, ma non troppo


Ainda há grelos sem estarem espigados! Embora não os plante, desfruto-os, comprados em Chaves ou dados por vizinhos. Aliás, estas relações de vizinhança, comparativamente, evidenciam a diferença de relacionamento entre vizinhos citadinos. Na aldeia é frequente darem-me grelos, batatas, cebolas, espinafres, alfaces, tomates, pepinos, fruta, folar e fumeiro, fato ilustrativo de que nas comunidades rurais a solidariedade, a dávida  e a partilha são valores que marcam o dia a dia das populações.


Fumeiro da Dona Conceição, produtora familiar que participa na Feira de Saberes e Sabores de Chaves. Este ano matou nove recos e não tem mãos a medir! O tempo, ainda frio, também corre de feição para o processo de cura.


Sempre que o estado do tempo o permite, campos e linhares são lavrados e preparados para as plantações e sementeiras da primavera.


Mas, por aqui, nas aldeias da montanha, ainda não se veem árvores frutíferas floridas como na Veiga de Chaves.


Apesar de nesta época os dias ensolarados alternarem com chuva, frio e geadas, não é para a Páscoa de 2010 que botões de cerejeiras, pereiras e macieiras vão desabrochar e florir.






Para lá de São Vicente da Raia as montanhas da cordilheira entre Sanábria e Manzaeda ainda estão cobertas de neve.

E no planalto que vai da Bolideira a Travancas, passando por Cimo de Vila da Castanheira e Roriz, a paisagem de carvalhos e castanheiros que avistamos ao longo da estrada não é ainda primaveril.


Mais um sinal de que a primavera, no calendário, chega primeiro!


A provisão de lenha no outono  não bastou para suprir necessidades acrescidas de um inverno frio e molhado. Por isso, há que picar mais!


Travancas no primeiro dia oficial de primavera.


Jacintos floridos no quinteiro não falharam, nem em 2010, no início da primavera!

sábado, 13 de março de 2010

Forno do Povo de Cara Nova

Assim dá gosto!


Há dias, falando de fornos,  o Toninho, empresário da construção civil de São Cornélio, disse-me que tinha feito obras de recuperação do forno do concelho em novembro de 2009. Levou-me lá de carro e abriu-me a porta. As obras de restauro feitas agradaram-me bastante. Além de manterem a estrutura primitiva, introduziram comodidades indispensáveis nos nossos dias, como água canalizada, energia elétrica e, imagine-se, luvas! O Toninho, orgulhoso da obra feita, como quem faz um filho, disse-me que tinha sido ele a escolher os mosaicos rústicos assentes no chão. Cá fora, na porta, a Junta afixou o custo da empreitada.



O velho forno do concelho, das grandes fornadas, do tempo em que as famílias eram grandes e muitas as bocas.


À noite, ou de madrugada, punha-se a vez, um qualquer guiço de giesta espetado numa das frestas da porta de madeira.


Quem primeiro cosesse, mais lenha gastava para o aquecer; estando de "pós-quente", bem menos se precisava.

O forno era de todos e a todos servia. Além de cozer o pão, lá se juntavam, à tarde, no tempo do frio, grupos de homens e rapazes, conversando, jogando às cartas. À noite, aí se recolhiam latoeiros, como o Zé dos carneiros, mendigos e ciganos necessitados de abrigo.


Hoje, excetuando o Lar Nosso Senhor dos Aflitos,  poucos o utilizarão; muitos têm forno particular e há o café que funciona como centro de convívio.


Entrada do forno do povo em Junho de 2008...


... e depois de restaurada.
O Toninho disse-me que  o forno de Argemil também vai ser recuperado -  o que acho bem, pois o casco antigo da aldeia é muito valioso. Enveredando por este caminho, de valorização do património edificado comum, Travancas preserva a sua identidade e memória coletivas,  reforçando nos naturais  o sentimento de orgulho, a auto-estima e os laços identitários de pertença à  comunidade.


Texto de Mariana, exceto a introdução e a conclusão.