sábado, 13 de março de 2010

Forno do Povo de Cara Nova

Assim dá gosto!


Há dias, falando de fornos,  o Toninho, empresário da construção civil de São Cornélio, disse-me que tinha feito obras de recuperação do forno do concelho em novembro de 2009. Levou-me lá de carro e abriu-me a porta. As obras de restauro feitas agradaram-me bastante. Além de manterem a estrutura primitiva, introduziram comodidades indispensáveis nos nossos dias, como água canalizada, energia elétrica e, imagine-se, luvas! O Toninho, orgulhoso da obra feita, como quem faz um filho, disse-me que tinha sido ele a escolher os mosaicos rústicos assentes no chão. Cá fora, na porta, a Junta afixou o custo da empreitada.



O velho forno do concelho, das grandes fornadas, do tempo em que as famílias eram grandes e muitas as bocas.


À noite, ou de madrugada, punha-se a vez, um qualquer guiço de giesta espetado numa das frestas da porta de madeira.


Quem primeiro cosesse, mais lenha gastava para o aquecer; estando de "pós-quente", bem menos se precisava.

O forno era de todos e a todos servia. Além de cozer o pão, lá se juntavam, à tarde, no tempo do frio, grupos de homens e rapazes, conversando, jogando às cartas. À noite, aí se recolhiam latoeiros, como o Zé dos carneiros, mendigos e ciganos necessitados de abrigo.


Hoje, excetuando o Lar Nosso Senhor dos Aflitos,  poucos o utilizarão; muitos têm forno particular e há o café que funciona como centro de convívio.


Entrada do forno do povo em Junho de 2008...


... e depois de restaurada.
O Toninho disse-me que  o forno de Argemil também vai ser recuperado -  o que acho bem, pois o casco antigo da aldeia é muito valioso. Enveredando por este caminho, de valorização do património edificado comum, Travancas preserva a sua identidade e memória coletivas,  reforçando nos naturais  o sentimento de orgulho, a auto-estima e os laços identitários de pertença à  comunidade.


Texto de Mariana, exceto a introdução e a conclusão.

7 comentários:

Anónimo disse...

Olá Boa tarde. sendo um conterrãneo, que contente fico em saber que ainda se preservam as preciosidades das nossas aldeias. No entanto deixo um repto: O Toninho que faça o mesmo ao centenário forno de S. Cornélio e à fonte de mergulho que está ao lado.

PEREYRA disse...

Amigo Anónimo!

A decisão de recuperar os fornos do concelho é da Junta de Freguesia, o Toninho executa. Em Argemil vai ser recuperado o forno que fica nas Poulinhas e a seguir será a vez do de São Cornélio.
Fui esta tarde fotografar a fonte de mergulho e o forno que refere. Já tinha fotografado o castanheiro por cima da fonte mas desconhecia que existissem forno e fonte. O recanto é romântico.

Anónimo disse...

Folgo em saber essas notícias. O Forno comunitário de S. Cornélio guarda as memórias de muitas gerações. Foi ferramenta para o suporte do sustento do povo, foi refúgio de nómadas e fugidos à guerra civil espanhola. Foi sala de convívio, palco de muitas histórias e conversas. A tia Maria Carpinteira aí fez muitas fornadas de pão. Portanto, em memória das memórias do povo, que se preservem estes dois munumentos (a fonte e o povo). O povo agradece, já que nos retiraram a escola do povo. Já agora, visite o meu blog: http://de_svo.blogs.sapo.pt/. Boa noite

James disse...

O seu blog faz as delícias de quem se interessa pelo Portugal interior tantas vezes esquecido.Vejo que a Primavera chegou mesmo a tempo de presentear essas gentes com flores, mesmo depois de Invernia tão longa e talvez bem dificil. Bem haja, força! Traga-nos mais posts!

PEREYRA disse...

Já espreitei os espaços do James e do amigo anónimo de São Cornélio. Feliz Páscoa para ambos e para todos que passam por cá.

Tiago Mendonça disse...

Excelente intervenção, só falta aí uma portinha para completar o restauro :)

http://mendoncarte.blogspot.com/2010/12/porta-de-forno-lenha.html

Continuação de bom trabalho na recolha e divulgação de todos estas informações, porque muitos desvalorizam, outros desconhecem por completo e ISTO TAMBÉM É PORTUGAL e toda esta cultura torna-o mais rico.

Saudações transmontanas,

Tiago Mendonça (Lamas de Orelhão)

PEREYRA disse...

Olá Tiago!
Nasci numa aldeia que pertenceu ao concelho de Lamas de Orelhão, entre 1836 e 1853. Um dia, sem avisar, faço-lhe uma visita, para conhecer os seus trabalhos em ferro.