segunda-feira, 24 de maio de 2010

Pentecostes em Argemil

Festa do Divino Espírito Santo

Pentecostes - quinquagésimo, em grego antigo - é a festa cristã que comemora a descida do Divino Espírito Santo sobre os apóstolos, cinquenta dias depois do domingo de Páscoa e dez dias depois da Ascenção. Dois nomes diferentes, consoante o lugar,  para a mesma festa.


Em Travancas, esta celebração  é rotativa, cabendo a cada uma das três aldeias da freguesia, de três em três anos,  a organização da festa. No século XX, Travancas e Argemil, como eram mais populosas que São Cornélio, chegaram a ficar divididas em dois bairros, tocando a organização a cada um, de cinco em cinco anos.



O Divino Espírito Santo, festa, outrora, exclusivamente religiosa, incluia uma procissão. Este ano, calhando a vez de Argemil organizá-la, a 23 de maio, foi introduzida uma componente profana.



O dia ensolarado ajudou a que muito povo das três aldeias se juntasse no largo, por trás da igreja, para bailar, beber uns copos no café, jogar cartas e conversar animadamente.  A um observador fica a ideia de que a festa profana atrai um público mais vasto que o da prática religiosa.





As mulheres, como habitualmente, são as que mais participam no bailarico.



A atuação do conjunto SAMTEX, de Carrazedo de Montenegro, terá sido a forma de Argemil se ressarcir do perdido arraial de São Miguel, padroeiro da aldeia, cancelado devido à intensa chuva, caída no dia da festa.



Chegas

No âmbito da festa do Divino Espírito Santo realizaram-se três chegas num campo próximo do posto de vigia florestal, junto à raia.


Para quem não sabe, a chega é uma luta de touros.  Noutros tempos, em muitas aldeias havia um touro cobridor, por todos alimentado, chamado boi do povo. Em dias de festa, era costume por os bois a lutar. A rivalidade era grande, a aldeia do touro vencedor rejubilava, como se a força e a virilidade do animal se transferissem, no plano simbólico, para os homens do lugar.



O costume da chega, enraizado na Terra Fria do Barroso, propagou-se a outras terras transmontanas, incluindo cidades e vilas, como forma de espetáculo típico da região de Trás-os-Montes. Em Vinhais, até já foi construída uma praça de touros, o chegódromo, e organizam-se campeonatos de chegas!


Sinal de identidade transmontana, é com agrado que registo a realização de chegas na freguesia, sem ser na festa do Senhor dos Aflitos. No entanto, o emaranhado de normas burocráticas é um obstáculo à continuidade deste ancestral e típico costume, feito a medo das autoridades, insensíveis a valores identitários da região transmontana.


Cheguei ao campo a tempo de assistir à última chega. Apesar de ficar afastado da aldeia, estavam lá várias pessoas, deslocadas em carros, carrinhas e atrelados.


A chega acaba quando um dos touros, percebendo que não tem força para vencer o adversário, desiste de lutar e foge. Aquela a que assisti foi rápida, não demorou mais que um ou dois minutos.


O senhor Carlos, natural de Travancas mas a residir em Argemil, é o dono do último touro vencedor, um animal jovem, de dois anos, pesando cerca de 400kg. As chegas realizaram-se com a prata da casa, touros de vacarias de Argemil e São Cornélio.



No regresso à aldeia, parei num alto, junto ao pinhal, para contemplar, maravilhado, a vastidão de montes e terras que se estendiam à minha frente. O olhar abarcava tudo, desde São Vicente e outras terras raianas, até ao Parque de Montesinho e Galiza.

Como gosto de Trás-os-Montes na Primavera!

Entretive-me a fotografar pinhas, fragas e o tapete de flores de carqueja, tojo e de outra flora típica da região, florida nesta altura do ano, tal como a flor branca cujo nome desconheço. Não me admira que o senhor Modesto tenha para estes lados uma colmeia. Ia vê-la, quando o encontrei pelo caminho.


Ruralidade e bucolismo


Depois de uma passagem pelo local do bailarico, onde encontrei o Luís,  o jovem que pintou a máscara de careto que tenho na sala, fui até ao fundo do povo para falar com um emigrante que reconheci na  missa do Divino Espírito Santo, décadas depois de as nossas vidas se terem cruzado a primeira vez.


Pelo caminho passei por uma seara de centeio, encontrei um pastor de cabras, para quem o domingo era dia de trabalho...


...e um gato dorminhoco parecido com a Gigi, gatinha que trouxe de Oeiras para Travancas e morta, por atropelamento, na Bolideira.



No recinto da festa a animação continuou pela tarde fora e à noite houve arraial. Para o ano há mais!


4 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma crónica, leve, mas cheia de beleza na escrita e na reportagem fotográfica. Continue a fazer-nos sorrir. Obrigado.

PEREYRA disse...

Ah! ah! ah! Afinal, quem se riu agora fui eu! Obrigado, a si, tambem.
Entretanto, apesar da irregularidade com que escrevo, espero continuar a despertar-lhe o interesse de voltar.

Angélica Maldonado disse...

Como herdeira Angélica Maldonado, aceito comentários para o m/ e-mail profissional.

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Angélica Maldonado disse...

Gostei de ver o parque de estacionamento que fizeram, após a demolição da casa do meu avô Sargento Edmundo.
Terei o prazer de estacionar lá o meu carro, tantas quantas as vezes que visitar a linda aldeia de Travancas. Cumprimentos para todos os habitantes.