terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Castanheiro Centenário Abatido

Oração florestal


Foto tirada por João Pedro S. Pereira em 05-02-2005


Súplica da árvore ao viandante

Tu que passas e ergues para mim o teu braço,
Antes que me faças mal, olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar  nas noites frias de inverno.
Eu sou a sombra amiga que encontras
Quando caminhas sob o sol de agosto,
E os meus frutos são a frescura apetitosa
Que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa, sou a tábua da tua mesa,
A cama em que tu descansas e o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,
A madeira do teu berço e o conchego do teu caixão.
Eu sou o pão da bondade e a flor da beleza.
Tu que passas, olha-me bem e... não me faças mal.

Albano Q. Mira Saraiva



Travancas perde património florestal

Havia no Vale da Bouça um castanheiro monumental com várias centenas de anos.  Era o de mais proveta idade, dos velhos castanheiros que durante séculos alimentaram os nossos antepassados, em caldos de castanha, e engordaram as cevas, com bilhós. Era acarinhado. Já os celtas, de quem descendemos, veneravam os castanheiros pela magia e abundância de alimento que deles pingava. Em Travancas, não havia outro castanheiro que igualasse o tronco deste, em envergadura lenhosa. Era tão grosso que só vários homens,  dando as mãos, conseguiam abraçá-lo.


Foto tirada por euroluso em 21.11.2009

Durante séculos, imponente e grandioso, sobreviveu às doenças, às intempéries e ao machado. Sucumbiu no século XXI, à força da motoserra, empunhada pelo homem predador. Desconheço quando foi deitado abaixo, quem o fez e com que propósito. Sei que deve ter sido cortado por fases, como sugerem as fotos. Sei que fiquei triste, quando vi um espaço vazio, no lugar onde me habituara a admirar o seu porte majestoso. 


Mais abaixo, ainda no Vale da Bouça,  restam dois ou três castanheiros, de uns duzentos anos, que devem deixar de merecer a nossa indiferença e passarem a ser vistos como aliados e amigos do homem.




Espero que estes espetaculares seres vivos não sofram o destino do mais antigo castanheiro de Travancas e que o homem, respeitador da natureza, saiba honrar a memória de todos os que lhes deram vida e os conservaram durante séculos.
 
 
Porque não fazer um levantamento do património florestal  da freguesia, considerando o seu interesse cultural? Porque não seguir o bom exemplo de São Vicente da Raia, onde um secular castanheiro é motivo de orgulho e está classificado como árvore de interesse público? Falta, no entanto, a Junta colocar, no tronco do ex-libris, uma placa a atestar-lhe a idade, de modo a publicitar a aldeia a nível cultural e turístico.
 
 

6 comentários:

James disse...

Mais uma triste noticia, este triste país está a saque e o pior é que ninguém sabe o que fazer para travar esta aversão nacional às árvores. Obrigado mais uma vez por divulgar, fico triste por tal àrvore, só não resiste à ignorancia dos Homens.

Unknown disse...

Muita linda a duvulgação, precisamos conscientizar nossos filhos, pois serão o nosso futuro.
abraços

Rogério Maciel disse...

Cumprimento a sua bôa-vontade/bôa intenção(de "bôas intenções" , como sabe , está o Inferno cheio !), mas fique a sabêr do seguinte :
O "espírito" que presidiu e preside á DESTRUIÇÃO da Língua de Portugal com o Criminôso e Idiota "AO" , é o mêsmo que presidiu ao Assassínio dêste Maravilhôso Castanheiro , Testemunha perene da História de Portugal e da região , é o mêsmo "espírito" Destructivo que preside á Destruição , Manipulação , da História de Portugal e da sua Secular Tradição , o mêsmo que "presidiu" á Destruição de centênas de Carvalhos e outras Lindas Árvores centenares em Portugal e tantas outras Coisas Maravilhosas de Portugal , tais como a Bondade e tantos outros Sentimentos que caracterizavam o Pôvo de Portugal ...êsse , é o "espírito" "euro" ,porta Escancarada de entrada de tudo o que é estrangeiro em Portugal , em desfavôr total do que é Nosso , êsse é o "espírito" "lusófono" que é porta de Escancarada de entrada do Neocolonialismo BRásuca no nosso País !
Enfim , nenhuma Nação pode sobrevivêr , assim como tudo o que faz parte Dela , quando os Sêus filhos não são os Mestres da Sua Própria Casa ....uma Casa Dividida contra si mêsma , em que o Dôno da Casa se entregou aos Ladrões , é uma Cas e uma Família que se dirige rápidamente para a Destruição !

PEREYRA disse...

Olá Maciel!


O seu comentário leva-me a crer que, na questão dos valores, temos em comum o respeito pela Natureza e a preservação da identidade nacional, incluindo a linguística. Divergimos é na forma, quando esses valores se transformam em atitudes que considero serem de intolerância e xenofobia. Se pensar que as línguas são códigos de comunicação de uma comunidade cultural e identificam os seus membros como pertencentes a um "Nós"; se perceber que as línguas não são imutáveis, que estão sujeitas ao longo do tempo a constantes mutações e que cada geração vai acrescentando palavras e expressões novas, compreenderá que as regras, caso pretendamos preservar a comunicação, são fundamentais para uniformizar o seu uso pelos falantes. A minha pátria é a língua portuguesa. Porém, esta língua não é apenas minha e sua, pertence a todos os que a falam. Graças ao nosso passado colonial, essa pátria linguística espalhou-se pelo mundo fora, sendo o português a língua materna em que luso-afro-brasileiros aprendem a chamar pela mãe.

Tiago Lage disse...

Não respeitamos o legado patrimonial arbóreo deixado pelos nossos antepassados. Entramos numa sociedade que pouco mais conta que o dinheiro imediato e o faz figura.
A Natureza tem um quadro deontológico bem diferente e que se aproxima mais do divino.
Jorge Lage

PEREYRA disse...

Olá Tiago!

Mais um castanheiro centenário e "protegido" por lei foi abatido em São Vicente da Raia.
Tenho o seu excelente livro sobre a castanha