quinta-feira, 27 de março de 2014

Adeus Inverno, olá Primavera

O jacinto na mitologia

O jacinto e o narciso são bolbosas de jardim que florescem em março, na transição do inverno para a primavera.   Mitos gregos falam do simbolismo destas flores.


"Nascido em Esparta, Jacinto era um desses jovens eleitos dos deuses. Certo dia, Apolo, quando conduzia  sua carruagem na abóbada celeste, viu-o. Jacinto, além de admiravelmente belo e pleno de encanto, era também musculoso e forte como um pinheiro esbelto do Monte Olimpo. O deus percebeu que tinha encontrado, enfim, o companheiro perfeito, pronto a reunir-se a ele". 
Clicar aqui para ler a lenda completa.



Os dois amigos passaram a ir juntos à caça, à pesca, ao cume das montanhas contemplar em silêncio o espaço infinito...

"Um dia, quando jogavam, Apolo lançou o disco alto e longe. Jacinto correu adiante ansioso para medir a distância. Porém, o disco, puxado por Zéfiro, o  despeitado Vento Oeste, voou contra a fronte do jovem, derrubando-o ao solo.  Apolo correu, levantou-o nos braços, mas a cabeça do jovem tombou sem vida sobre os ombros do deus-sol". 



"Se eu pudesse morrer por ti, Jacinto!" Clamou Apolo. "Despojei-te da tua juventude. O sofrimento é teu, o crime é meu. Cantarei para ti sempre, ó amigo perfeito! Tu viverás eternamente como uma flor que aos corações dos homens falará da primavera e da juventude eterna".



"Enquanto falava, a seus pés brotava, das gotas de sangue, um cacho de flores azuis como o céu na primavera, embora pendessem as pétalas como se em estado de dor".



"Ainda hoje, quando o inverno chega  ao fim e o canto dos pássaros anuncia a primavera, encontramos os sinais do juramento de  Apolo, o deus-sol".

Esta história mitológica narra o amor homossexual entre Jacinto e Apolo ou  a idealização do companheirismo espiritual? Fica a pergunta para reflexão.




quarta-feira, 19 de março de 2014

Feliz Dia do Pai

Poesia dedicada ao progenitor




Trabalho de Companheiros 


Consultavam-se e reuniam
Um grupo de camaradas,
Caminhando percorriam
Quilómetros para as segadas.

Ainda o sol dormia,
Já eles estão acordados,
Ao nascer de um novo dia
Cantavam bem afinados.


A foice bem aguçada,
Braços fortes e ligeiros
Avançavam em despicada
Aqueles novos ceifeiros.


À tardinha, ao sol-pôr,
Cantavam à desgarrada,
Que lindas canções de amor!
Até as tantas da madrugada..
.




 - Esta poesia é dedicada ao meu pai com muito amor.


  
Ibn (filho) Isaque
Sexta-feira, 13 de feveriro de 2009


 Amor Filial


Quatro dos cinco filhos, com o pai e a mãe, na comemoração das bodas de ouro.


Que pai não se sente embevecido por, numa simples poesia, o filho lhe transmitir carinho, admiração e respeito? Apetece dizer-lhe, bendito pai heroi que dos filhos és honrado. 




A todos os pais, papás ou paizinhos de Travancas, Argemil, São Cornélio e Roriz, votos, no dia de São José, de um feliz Dia do Pai!





sábado, 15 de março de 2014

Roriz no Caminho de Santiago

Antigo albergue de peregrinos em ruínas

Em Roriz existiu um albergue para os peregrinos de Santigao de Compostela que,  vindos, possivelmentre,  de Santa Valha, onde havia outro albergue, passavam por Lebução, Tronco, Cimo de Vila da Castanheira e por estas terras do Planalto de Travancas, em direção aos albergues de Vilardevós e Verim, na Galiza.




Nos dias de hoje encontra-se em ruínas. Os tijolos, na fachada do piso superior, indiciam que já houve tentativa de evitar a degradação do edifício, insuficiente, como se pode observar.



Aquando da sua edificação, contrastando com os casebres de colmo, da aldeia, terá tido cobertura de telha e paredes caiadas, a exemplo das ricas casas citadinas.



Quanto à sua propriedade, privada, não é de excluir que tenha sido património da Igreja até à extinção das ordens religiosas  no século XIX. Só que, tal como aconteceu  a muito do património confiscado pelo Estado, tal como propriedades agrícolas, conventos, obras de arte e outros bens materiais, com o decorrer dos tempos terá passado para mãos particulares.




Apesar do estado de abandono em que se encontra, o antigo albergue conserva na fachada alguns elementos decorativos que valorizam o histórico património.



Cruz e voluta dupla - ornato entalhado no granito em forma de espiral.



Bonito lintel - padieira de granito sobre a ombreira da porta - datado de 1782, em baixo relevo. A data de MDCCLXXXII, em algarismos romanos, deve ser a da construção do albergue, no reinado de Dona Maria I, a Viradeira, por seguir uma política de apoio à igreja, oposta à de seu pai, Dom José I, cujo primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, se notabilizou pela perseguição aos jesuítas.



Ombreira e nicho dedicado às alminhas do Purgatório, encimado por uma cruz e voluta dupla. O pequeno altar, incrustado na frontaria do albergue, hoje considerado património artístico-religioso do mundo rural, noutros termpos era um elemento de culto aos mortos, onde se parava por um momento para deixar uma oração.

IRMÃOS
AJVDAÐ
NOS A SA
IR DESTAS
PENAS
Irmãos, ajudade-nos a sair destas penas
Inscrição em baixo-relevo, em pedra parcialmente soterrada, pelo empedramento da rua.



Fachada lateral do imóvel, no Beco da Lampaça, decorada com cornijas e gárgulas, além de cunhal e ombreiras em propianho. 



Porta de entrada, acessível por escaleira lateral, feita em cantaria e ladeada por duas colunas trabalhadas, uma das quais a ser substituída por um caibro.



Pormenor artístico, com baixo-relevo em caracol, ornamentação típica das escadarias monumentais de Casas Grandes e solares. De notar como as pedras de granito, cortadas e bujardadas, sem recurso a maquinaria, encaixam umas nas outras para dar forma ao corrimão.



 
É provável que todo o trabalho de ornamentação, nas duas fachadas e na escaleira, não tenha sido obra de simples pedreiro mas de mestre na arte de talhar e cinzelar a pedra dura.  





Além deste antigo albergue, Roriz. aldeia de montanha, tem um vasto e rico património de arquitetura e cultura tradicionais, algum, aliás, bem preservado e restaurado.



Tudo continuará a ir pelo melhor se cada um zelar pelo seu património e todos pelo que é do domínio comum!  Se a união faz a força, porque não seguir o lema "um por todos e todos por um"?



Não caberá à Câmara Municipal de Chaves,  fiel depositária do património municipal, a iniciativa de restaurar o velho albergue,  recorrendo, através de apresentação de projeto, a financiamentos da União Europeia, disponíveis para  ações de valorização do património cultural europeu?




E porque não transformar a antiga escola primária, ao lado, há anos abandonada, em anexo de um novo albergue de peregrinos, adaptando os dois edifícios às necessidades culturais do século XXI? Ganhariam eco-turistas, caminheiros, peregrinos de Santiago, município de Chaves e União de Freguesias de Travancas e Roriz!



Reconhecendo a importância da cultura no processo de unificação dos povos europeus, o Conselho da Êuropa instituiu  em 1987 o Programa Itinerários Culturais, com  o objetivo de conhecer, salvaguardar e valorizar o património cultural europeu, entendido como recurso importante para o desenvolvimento social, económico e cultural.  Os Caminhos de Santiago, pela sua importância na aproximação cultural dos povos europeus, foram a primeira rota a ser  oficialmente reconhecida.






Em   Portugal há itinerários identificados e  demarcados. Porém, no planalto que vai da Pedra Bulideira a Travancas,  apesar de existência do albergue de peregrinos em Roriz, e do santo ter o seu culto em localidades próximas - capela de Mairos e igreja de Tronco, onde é patrono - o estudo do itinerário jacobeu, nestas terras raianas, está por fazer, ser divulgado e oficialmente reconhecido.



No São Tiago vai à vinha e encontras bago! - diz o senhor Abílio Rodrigues, de Tronco, para justificar a existência do cacho de uvas na mão do padroeiro.



A desertificação demográfica das nossas aldeias é uma triste realidade. Não ficar à espera que poderes exteriores tragam soluções que contrariem o despovoamento do Planalto Ecológico de Travancas é o desafio que  me proponho abraçar. Assim, para tornar a União de Freguesias em polo de fixação e de atração de pessoas,  dou o meu contributo, batalhando, desde já, para colocar Roriz e  Travancas no mapa dos Caminhos de Santiago! Vamos, de mãos dadas, empenhar-nos  nesta causa, todos juntos!




quarta-feira, 12 de março de 2014

Com os olhos na Sanábria

Tan lonxe e veciña de nós

Enquanto no planalto de Travancas a bela paisagem proporcionada pelas nevadas teve curta duração, na Sanábria, de onde sopra um vento frio - o Vento Norte - a neve continuou a pintar de branco os cumes mais altos.


Numa tarde solarenga subi às Poulinhas, em Argemil, para fotografar os montes da Sanábria mas descobri que a perspectiva não era a melhor.  Em contrapartida, ao descer, regalei-me com a visão edénica do rebanho de ovelhas a apascentar no lameiro.



Depois de tirar estas fotos, não resisti a ir ao encontro da neve. No dia seguinte fui de carro a Padornelo, a 60 km de Travancas. A típica e despovoada aldeia entre As Portelas, com clima de montanha, fica encravada nas serras de Gamoneda e Segundera, a 1360 metros de altitude. Lá, garantiu-me o dono do café, a camada de neve chegou a ter mais de 60 cm de espessura!


A Portela de Padornelo, embora seja de cultura linguística galaico-portuguesa, como toda a região da Alta Sanábria, no século XIX foi separada  da Galiza e anexada à província de Zamora, de língua castelhana e com a qual não tinha afinidades económicas e culturais. Os habitantes de Lubian, município em que Padornelo se integra, contudo, ainda persistem em falar a sua língua tradicional, o galego.


Em primeiro plano, em terras portuguesas, vê-se São Vicente da Raia. Do lado de lá ficam as serras galaico-leonesas, onde nasce o Tuela, río de augas frías, afamado pela pesca à truta, tal como o seu afluente, o Rio Mente, em Segirei.


A Sanábria é já ali! E os galaicos, seus coevos habitantes, son os nosos veciños e irmáns de fala!


A partir de São Cornélio já não se vê a Sanábria, tapada pela Serra de Mairos. Contudo, vê-se a Manzaeda - Manzaneda em castelhano -  montanha com pistas de esqui. Estendendo o olhar para Oeste e para Sul, avista-se o mar de serras portuguesas, de que sobressaem, pela brancura dos cumes, a Serra do Larouco e, por detrás desta, a Serra do Gerês. 



Ó, como é bom estar entranhado nas serras e sentir-me montanhês! Teño morriña cando me faltan estes aires!