quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Terras da raia sob névoas

Na estação celta da escuridão

Druída celta e o caldeirão mágico
Os primitivos habitantes da Terra Fria transmontana foram os celtas, povo do qual herdámos, além do ADN, costumes pagãos que, embora proscritos pelo cristianismo, sobreviveram em povoações mais isoladas.


Aqui bem perto, em Cidões, concelho de Vinhais,  ainda se festeja  no equinócio de outono, a passagem da estação da claridade (primavera e verão) para o tempo da escuridão (outono e inverno). No calendário celta só há estas duas estações do ano.


A estação da escuridão, aquela em que nos encontramos, vai até ao equinócio da primavera, em março.



 
Este é o tempo em que, quando a noite é mais longa que o dia, a natureza hiberna.


 
É o tempo em que, quando as brumas cobrem as aldeias da montanha...


Emerge do nevoeiro Cailleach,  deusa dos ventos frios e das mudanças; senhora do inverno, mais antiga que o próprio tempo.


Mago a fazer queimada - poção mágica que aquece o corpo - observado por três deusas celtas. Os aldeões dão-lhes o nome de bruxas; meigas, em galego.

Esconjuro
parte final

"Forças do ar, terra, mar e fogo,
a vós faço esta chamada:
se é verdade que tendes mais poder
que a humanas pessoas,
aqui e agora, fazei que os espíritos
dos amigos que estão fora,
participem connosco desta Queimada.

Em São Cornélio, sob a névoa, perdida a noção de abóbada celeste, abarcando o zénite e o nadir, deixo de sentir a veiga de Aquae Flaviae aos pés; deixo de me sentir senhor de todas as montanhas abarcadas pela vista, do meio-dia ao setentrião. 



No denso nevoeiro, nem sequer avisto, ali arriba, o Alto da Escocha, onde a Gallaecia se divide em duas, a do norte e a do sul. 

Adentrando no imaginário de lendas celtas, vejo Nimue, a Senhora do  Lago, mergulhar nas águas da barragem do Vale das Tábuas, morrendo por amor.


No silêncio  das brumas, o ruído do trator e o cheiro a estrume,  despertam-me do encantamento e devolvem-me à realidade.


Regresso a Travancas, outrora designada Capital da Batata, Travancas da Raia  e Travancas de Monforte.

 "Portal" por onde, no Reino Maravilhoso, se entra e sai da magia raiana.




Há milénios, na noite sagrada de 31 de outubro, no shamhain, festa de passagem para a estação da escuridão, os celtas faziam uma fogueira para honrar os mortos e oferecer-lhes comida.  Desse costume, ficou o  magusto, fogueira onde se assam castanhas, mas despojado da ligação simbólica ao culto dos mortos.



As névoas vão continuar até março mas dentro de dias festeja-se o Natal, nascimento da LUZ, coincidente com a festa celta que celebra o Solstício de Inverno. Aqui na raia, este ano, à falta de nevadas e geadas,  por causa das alterações climáticas, valham-nos as brumas que nos envolvem de magia!

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