sábado, 31 de dezembro de 2016

Feliz Ano de 2017

Ceia de réveillon com corça selvagem



Jantar da passagem de ano


Mesa preparada para a tradicional ceia do réveillon, celebrada em família e com  amigos.


Corça ao jantar


A corça ou corço, mamífero herbívoro, primo do veado e do gamo, vive no estado selvagem em toda a Europa, incluindo nas nossas terras raianas. Quem circula pelas estradas do planalto que vai da Bulideira a Travancas e prossegue pelas estradas do outro lado da fronteira, certamente já viu, ao perto ou atravessarem-se no caminho, alguns dos pequenos mas velozes cervídeos, conhecidos  na banda desenhada pelo nome de Bambi.

Só os machos têm galhadas, curtas e pontiagudas, que as usam  na disputa por fêmeas durante a época de reprodução, no verão. No outono elas caem para crescerem de novo na primavera.




Caçadores, como o José Alberto, conhecem bem  o habitat e hábitos alimentares da corça, não lhe sendo difícil caçar alguma.  A carne de um desses animais veio parar a casa porque há uns tempos a Ana, sua esposa, ofereceu uma pá congelada  à minha.



O prato de corça veio assim juntar-se aos tradicionais doces e pratos típicos que, em geral, se encontram nas ceias de fim de ano das famílias portuguesas.


No repasto de algumas não falta o popular caldo verde na malga, como na minha, feito com couves das Trabancas.



A pá do corço ficou guardada no congelador.  Dois dias antes da ceia foi descongelada e ficou na água para perder cheiro e sangue. Nela foi encontrado um dos chumbos que matou o animal.



Carne de corça na ementa da ceia de fim de ano.
No Brasil, perante um prato gourmand como este, algumas senhoras exclamariam que chique! enfatizando admiração pela invulgaridade do prato, ocasionalmente acessível  a pessoas sem grande fortuna. A corça, por isso, pela raridade e novidade, foi o tema central das conversas de anfitriões e convidados.



Já conhecia a carne de javali mas a de corça, foi a primeira vez que a degustei.  Havia por isso uma certa curiosidade em relação ao seu sabor.  A expectativa não foi defraudada. Apesar de quase não ter gordura, a carne não ficou seca; estava suculenta, saborosa e houve unanimidade, na apreciação positiva.



O mérito, contudo, também cabe à cozinheira, a minha  mulher. É ela que, sem ser apreciadora desta carne, ou da de javali, cordeiro, cabrito, reco e coelho, é capaz de cozinhar pratos muito bem apaladados. O segredo  desta excelente  iguaria refogada esteve no tempero da carne, embebida e cozida num litro de vinho verde, embora haja quem lhe ponha whisky ou aguardente.



Terminado 2016, com um bom repasto em família, geadas e  temperaturas negativas nos últimos dias, que venha 2017, trazendo mais calor às relações humanas; prosperidade, saúde e paz a todos, assim como a todas as famílias e nações.





quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Prenda de Natal

Que rico par de meias!

Este ano, na distribuição de prendas de Natal,  na noite de Consoada, recebi um par de meias. No meu íntimo, sem ofender ninguém, foi a prenda de que mais gostei; por gostar deste tipo de meias tradicionais; por elas me fazerem recordar do tempo em que a tia Marquinhas as fazia em lã de ovelha e mas oferecia; E pela agradável surpresa.  Um segredo que a minha mulher bem guardou. 


Não resisti à tentação e já as calcei. Estou contente, tenho os pés quentes como o borralho! Nós, às vezes, complicamos tanto a vida! Andamos à procura de prendas caras quando coisas tão simples, à nossa mão, podem fazer outros sorrir e serem felizes.  


Obrigado senhora Maria pelas meias. Depois de me ter dado, quando nos despedimos, as bolachas para os netos, que  eu, guloso, comi, não estava nada à espera de outra prenda sua. Oxalá Deus lhe dê saúde e pernas para andar.



Este ano, esta minha vizinha, devido à operação ao joelho, não me ajudou, como no ano anterior, a apanhar castanhas. Levei-lhe umas tantinhas numa cesta; não por ter guardado dos pastores o souto em frente à sua casa, mas por saber que, sendo viúva, tendo os filhos e netos longe, vivendo sozinha e apoiando-se numa bengala para andar,  não as podia apanhar.
Aceitou as castanhas com relutância, só depois de lhe pedir que me deixasse ser instrumento  do Criador de todas as criaturas e de todas as coisas visíveis e invisíveis do universo.



A amizade é um valor incalculável que em Travancas ainda marca muito as relações de vizinhança. Com a família da senhora Maria, a amizade entre o seu marido e os meus sogros, transferiu-se para os filhos. 



Na véspera de Natal, mexendo numa gaveta da secretária onde escrevo, à procura de etiquetas para colar num embrulho, encontrei este cartão, dirigido pela Fátima - filha da D. Maria - ao meu Pedro, escrito em Boulogne (Paris) no dia 28-01-2006, portanto há 10 anos. Lendo o texto, só quem não tem amigos é que não sabe dar valor à amizade, nobre sentimento capaz  de transformar a troca mercantil das prendas natalícias num autêntico dom.




quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A São não pára!

Ano após ano, repetem-se as imagens do fumeiro

Lareiros pendurados na cozinha, pejados de luzidios enchidos a secar, são uma tentação à gula.



Enchendo as tripas das alheiras artesanais. Apoio familiar é fundamental.



Todos juntos na produção de fumeiro caseiro, apreciado pela muito boa qualidade.


Palavras para quê? As imagens do fumeiro da São falam por si.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Matança do reco do Tó

Tradição das matanças em marcha

Apesar de ter sido avisado da matança, falhei o cuincar, momento em os recos, sentindo a faca do matador espetar-se-lhe no coração, soltam altos e doridos berros. Quando cheguei à matança do To Ribeiro já os dois bácoros estavam a ser chamuscados.




Chamuscar a pele dos recos com palha passou à história. Agora é sempre com maçarico a gás, muito mais eficiente. Enquanto um chamusca, apontando o maçarico à pele, um ou dois, enquanto está quente, raspam-na com navalhas. Nas unhas e orelhas, por serem rugosas, o trabalho é moroso.


Depois de chamuscada e raspada a pele, segue-se a lavagem exterior do animal.


Quando finalmente fica lavado, abre-se o reco, começando pela couracha. É dela que se fazem os rijões,  como se diz fora da terra. 



Nos últimos anos, o Carlos e o pai são quem tem matado os recos, normalmente dois, ao  Tó Ribeiro. O Carlos é  o matador doutras matanças também. Mas, em Travancas, Argemil e São Cornélio, como a população está cada vez mais envelhecida, não são todas as famílias que matam. Mesmo assim, e apesar da população continuar a diminuir, o Carlos ainda mata para cima de vinte.   



Os dois recos, depois de abertos e retiradas as entranhas, ficaram pendurados até ao dia seguinte, a apanhar frio, para a carne enrijar.  No interior da loja, as senhoras cortam carnes e preparam  miudezas.


Tudo se aproveita da carne do reco. Dela não se fazem só alheiras, chouriços, salpicões e presuntos. São um excelente manjar as ceboladas de iscas de fígado de porco!


Rijões fritos, acompanhados com batatas cozidas ou cortados com navalha num naco de pão, são um petisco que todo transmontano da gema bem conhece e aprecia.



Antigamente, por se  consumir ao longo do ano todo, dizia-se, com propriedade, que o reco era o goberno da casa!


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Poda dos Castanheiros

E preparação do novo ano agrícola

Concluída a campanha da apanha da castanha, a poda dos castanheiros,  entre dezembro e fevereiro, dá início a um novo ciclo produtivo da castanha.


O  desbaste, feito por mãos experientes, é feito de modo a  permitir que as ramificações recebam  luz.



Espalhar o estrume pelos terrenos, antes de serem lavrados com o trator, é outra tarefa que já se faz tendo em vista a preparação do novo ano agrícola.



sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Nevada na fronteira

Vale Grande cobriu-se de branco

Alto da Cota no dia seguinte à nevada


Marco fronteiriço,  na raia entre Travancas e Arzádegos (Galiza).


Estado da estrada entre Travancas e Arçádegos ontem às 20 horas

Passagem da fronteira


Estrada da fronteira  junto aos soutos situados acima da Vale da Preta.  Para baixo, em direção a Travancas, a neve, misturada com chuva, não pegou.

Porém, o inverno, nas terras da raia, já tinha sido sentido com as geadas da semana passada e desta.

Serras galegas cobertas de neve, vistas de Argemil, na primeira nevada deste inverno.



domingo, 20 de novembro de 2016

Terminou a apanha da castanha

Soutos ganham mais cor



Souto do Vale da Bouça entre Argemil e Travancas.


Quase duas horas para encher um balde de castanhas!


A variedade longal, apesar de ser a mais doce, por ser pequena e ter menos procura é a castanha de menor valor comercial. Começou por ser paga ao  produtor a 1€40, descendo depois para 1€10.


O saco pendurado no castanheiro é um aviso aos pastores de que não devem  por o gado no souto porque a apanha da castanha não está concluída.




Vindo do Vale Grande para Travancas...


A caminho da Roçada, antigo bairro Além do Rigueiro.




Souto do Vale da Preta e  serras galegas cobertas de branco