terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Fogueira de Ano Novo

Venturoso 2020 

Retomada a tradição das fogueiras do Solstício de Inverno


Grande fogueira no Largo de São Bartolomeu . Em boa hora foi retomada  a tradição de os vizinhos se juntarem e conviverem no último dia de 2019 para passagem do ano.



A iniciativa da fazer a fogueira no largo pertence a três senhores de Travancas: António, Amaral e Toninho.



O Tó Ribeiro com caixa de bolo-rei, para todos que quisessem,  mas a  ninguém apeteceu.

 

O Café Central entrou no espírito da Fogueira esmerando-se na decoração natalina e solsticial.




Alguns vizinhos, incluindo de Roriz, que circularam entre a fogueira e o Café Central.
Felipe, presidente da Junta, já se mostrou disponível   para dar continuidade à festa da Fogueira de fim de ano em 2020.
A ver, vamos!





domingo, 8 de dezembro de 2019

Alminhas da Roçada

 Obra de arte popular e devoção

Dia 21 de novembro de 2019 Travancas ganhou um oratório de culto às almas do purgatório, embora sem o peto ou caixa de esmolas. Para quem vem de Arçádegos, povoação galega, o artístico monumento aos mortos fica à entrada da aldeia, na encruzilhada da Rua da Roçada com a estrada que vai para a fronteira.


Travancas já teve no lugar do Peto um nicho com mealheiro das alminhas, peto de ánimas em galego, incrustado na frontaria de uma casa. Todavia, há dezenas de anos, devido à ignorância e incúria humanas, perdeu esse precioso bem cultural. No século XXI, do peto apenas restam as histórias contadas pelos mais velhos.



Na Galiza os Petos de Ánimas anteriores a 1901 são considerados bem de interesse cultural.  E na raia de cá, para quando uma lei protetora das alminhas?



No Peto, como em todas as alminhas, parava-se para rezar pelos mortos que penavam nas chamas do Purgatório e às vezes botavam-se moedas nele. Acredita-se que, graças às orações e às esmolas, as almas do Purgatório ficam limpas do pecado e sobem ao Céu, e onde, como numa troca de favores, intercedem a favor dos vivos que não se esqueceram delas.




O dogma do Purgatório, estado intermédio entre  o Céu e o Inferno onde a alma do falecido com pecados leves fica de castigo até ser purificada, foi instituído no Concílio de Trento, no século XVI. 
 
A concretização do dogma contribuiu para a expansão do culto às alminhas em Portugal e na Galiza no século XVII e seguintes. Marcas profundas da religiosidade popular, são uma presença constante nas estradas rurais e encruzilhadas.


A crença de que bruxas e espíritos malignos se encontram nas encruzilhadas exprime o medo pelo desconhecido. Terá sido por isso que desde tempos remotos, para afastar tais temores, se ergueram monumentos e realizaram cultos a divindades protetoras dos caminhos, dos viajantes, dos campos e das famílias.


A construção de capelas, oratórios, cruzeiros, estátuas de santos e petos das almas nas encruzilhadas, cristianizando espaços de anterior culto pagão, foi revelador da mudança de paradigma nas crenças religiosas, nos séculos posteriores à Contra-Reforma


Em sentido inverso, no século XXI, com o avanço da descristianização os petos, cruzeiros e capelas, estão a perder a função religiosa em detrimento  da finalidade de preservação cultural associada à estética e ao belo.



No topo  das Alminhas da Roçada figura uma cruz celta, símbolo identitário deste povo e anterior ao cristianismo, mas adoptado pela igreja irlandesa após São Patrício, padre irlandês, ter convertido os celtas à fé cristã.


A cruz céltica no oratório das Alminhas da Roçada também serve de pretexto para vincar a ideia de que Trás-os.Montes, pelas suas raízes, pertence à cultura celta,  pujante na música tradiconal e nas festas solsticiais de Inverno.




O círculo da cruz, onde duas barras vertical e horizontal se encontram, simboliza o Sol, fonte da vida, a espiritualidade focada na Criação. Movimentos neo-pagãos, inspirados no culto solar, usam a cruz celta como amuleto que dá força e protege. Para os cristãos, porém, a cruz simboliza Cristo Redentor, o alfa e o omega, o principio e  o fim do universo.




O beiral, de inspiração na arquitetura clássica do Renascimento, apresenta duas abas retilíneas  que se tocam em esquadria para formar um ângulo reto. No seu interior está um delta com um ponto central. Na tradição cristã essa figura simboliza a Santíssima Trindade e o olho de Deus que tudo vê. Nas igrejas barrocas do século XVIII era costume representá-lo sobre o altar mor, irradiando raios de luz.




Pedra de apoio, para colocação  de velas votivas  e flores, mas onde ainda falta prender ao granito uma barra de ferro protetora para os objetos não cairem.



No nicho de azulejos das alminhas costuma estar  representada a imagem de quem se recorre para interceder pelas almas dos falecidos. Os mais representados na iconografia são Nossa Senhora do Carmo, Cristo crucificado, arcanjo São Gabriel,  Santo António, etc., e em alternativa , uma cruz.




"As crianças vão directas para o Céu, são símbolos de pureza e por isso não têm nada para limpar no Purgatório".



Porque não recorrer diretamente ao Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade, para interceder pela almas do Purgatório? A pomba branca, símbolo do Espirito Santo, irradiante de Luz, é mencionada na Bíblia, no livro do Génese, com uma folha de  oliveira no bico, a anunciar  o fim do Dilúvio.


As almas, em agonia, suplicam orações e esmolas aos vivos para se purificarem e libertarem  das chamas do Purgatório.  A  sigla  P. N. A. M. em painéis de azulejos de Alminhas do século XVIII significa que se reze pelas almas do Purgatório Pai Nosso e Ave Maria.
A data em que a obra foi feita costuma aparecer nos azulejos.





"Irmãos, ajudade-nos a sair destas penas"



De todas as frases ligadas à necessidade de orar pelas almas, a que  mais me agradou foi a das alminhas do antigo Albergue de Peregrinos em Roriz, de que a empresa  fez uma réplica bem feita, com ligeiras modificações, para tornar a leitura mais fácil a qualquer pessoa.



Frontaria do antigo Albergue de Peregrinos em Roriz, em abandono, antes das obras de reconstrução em 2017.



Alminhas da Roçada


Antes...


Depois

Nota:
A edificação das Alminhas da Roçada só será dada por concluída quando o espaço envolvente, já expurgado de silvas,  ficar ajardinado, rodeado de plantas de alfazema, alecrim e neriuns oleander.




quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Nevada no Outono

Neve chega mais cedo este ano

Neve, pouquinha e de pouca duração, mas ainda assim o suficiente para satisfazer, como ao senhor Amaral, as saudades dela, caiu em Travancas e em todo o Planalto da Bulideira nesta manhã de 14 de novembro de 2019.


Veio mais cedo este ano. Desde o  raiar do dia que nevou com grande intensidade por diversas vezes, mas nevadas de curta duração, intercaladas  por bátegas frias. 


 A neve pegava mas pouco tempo  depois derretia, exceto nos locais mais abrigados e altos.



Foi a minha cara-metade que  às 7h 30´ me despertou para me dar a boa nova: -Vem ver, está a nevar em Travancas!


E eu levantei-me à pressa para, parafraseando Augusto Gil na  Balada da Neve, ver a neve a cair  "Branca e leve, branca e fria que há tanto tempo não via".


Abri a janela e, como criança feliz,  deixei-me estar a vê-la cair em farrapos, silenciosa. Ouvia o coração falar: Como ela  é bela! e um sentimento de  nostalgia "Que saudades, Deus  meu!"  se apossava de mim.



Depois, alvoroçado, sem me lavar e tomar o pequeno-almoço, peguei  na máquina fotográfica e subi até ao alto da Rua da Roçada...



... onde os carvalhos e castanheiros que plantei no Vale da Bouça ainda estavam, como numa paleta de cores, cobertos de folhas de diferentes tonalidades de verdes, castanhos, vermelhos e amarelos. 




O manto de brancura e a folhagem multicolorida despertaram em mim emoções e sentimentos de  bem estar, tranquilidade  e paz de espírito.

Perante esta maravilhosa paisagem, proporcionada pela Natureza, como não acreditar numa inteligência superior ou Deus criador?


Como é lindo o Outono! O Altíssimo seja louvado por meus olhos desfrutarem deste Éden.



Quando voltar ao pó da terra, e acreditando que há vida no Oriente Eterno, a minha morada no Olimpo será este rincão raiano !



Nunca presenciei nevadas antes do dia 28 de novembro!  



Este ano, porém, uma massa de ar polar, oriunda da Islândia, trouxe a neve duas semanas mais cedo.









Foi pouca, é certo, mas seria bom augúrio de virem outras mais nesta estação fria...

... não se desse o caso das alterações climáticas provocadas pelo Homem  fazerem temer que deixe de nevar em Travancas nos próximos anos.


Travancas, Terra Fria transmontana até quando?





quinta-feira, 31 de outubro de 2019

O tempo das castanhas

A mesma rotina, ano após ano

Normalmente as castanhas, aqui na freguesia, começam a pingar no final da primeira quinzena de outubro. A época termina um mês depois.




Este ano a época começou mais tarde, no mínimo uma semana.



Produção fraca. Num ouriço, onde deveria haver três ou mais castanhas, há duas.





sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Cogumelos, petisco às refeições

Frades ou rocas na brasa

Os  cogumelos recebem muitos nomes, variando a designação com os lugares onde são apanhados. Esta variedade, em  Travancas é conhecida pelo nome de frades mas há que lhe chame rocas.


Assados nas brasas e depois, envolvidos em azeite puro de oliveira são um grande petisco a anteceder as refeições.


Rocas no pão, assadas nas brasas da lareira.



As rocas são fáceis de identificar.  Encontram-se em toda a parte  mesmo sem ser em soutos.  È a variedade mais numerosa. O seu preço  no mercado também é o mais baixo.




Outra variedade  comestível

Chamam-se boletos. São os mais apreciados pelo sabor e serem suculentos. São também os de maior valor comercial, acima de 15 euros o quilograma. Nas aldeias da freguesia  há quem venda cogumelos apanhados no campo.


Encontrei muitos no souto, alguns com mais de um  quilograma. No entanto, como já estavam em fase de decomposição, não tirei qualquer proveito deles.