quinta-feira, 8 de maio de 2008

Aprender a Semear Batatas


Apesar de as minhas origens serem rurais, nunca trabalhei no campo. Aprendi, contudo, que a batata é um tubérculo e reconheço, sem dificuldade, um batatal ao longe, pela folhagem e pela flor.



Este ano, no início de Maio, decidi aventurar-me pelo mundo da agricultura, plantando cinco quilogramas de batata de semente, no quintal atrás da casa.

As batatas de semente, um balde delas, foram gentilmente oferecidas pela Maria, mulher do Acúrcio. Eram sobras. Em Chaves, nas lojas da especialidade, já não as vendiam ao retalho, só em sacos de 25 kg.
O trabalho de cavar a terra e de plantação das batatas foi quase todo feito pelo meu vizinho Tó Ribeiro.
A plantação coincidiu com a floraçao dos lírios. Nunca os vira floridos em Travancas. Por motivos profissionais jamais estivera na aldeia na altura deles florirem. A conjugação de diferentes tonalidades de verde primaveril com o azul aristocrático da flor proporcionou-me uma agradável e tonificante visão que espero desfrutar mais vezes.







Com o Tó aprendi a fazer rêgos na perpendicular ao declive do terreno e a por adubo.



Aprendi a que distância as batatas de semente devem ficar umas das outras e aprendi como fazer para as cobrir com terra .



Campo na Capital da Batata.
Embora a batata não seja uma cultura de regadio, a rega é uma prática utilizada com o objectivo de aumentar a produtividade.








No blogue http://tasmontesagricultura.blogspot.com/ , de Jose Maldonado, dedicado à agricultura, tomei conhecimento que 2008 era o Ano Internacional da Batata. Como Travancas se denomina a si mesma Capital da Batata, andei pela Internet à procura de informações sobre o assunto e encontrei um interessante sítio das Nações Unidas relativo às comemorações oficiais do Ano Internacional da Batata.




segunda-feira, 5 de maio de 2008

O São Miguel de Argemil da Raia

São Miguel Arcanjo, inimigo de satã, é o comandante dos anjos celestiais; o anjo que se parece com Deus.
No pendão da igreja de Argemil, numa das mãos, segura a espada com que derrotou o exército de Lúficer, anjo satânico que se rebelou contra Deus. Na outra mão segura uma balança pois, segundo a tradição religiosa, é ele que no julgamento, após a morte, pesa as almas e, se o prato pender mais para um dos lados, envia-as para o Inferno, caso nesse momento não se redimam dos pecados.











Travancas, freguesia, é formada por três aldeias: Travancas da Raia, Argemil e São Cornélio. Contudo, as fronteiras geográficas não são impeditivas da formação de laços familiares, do estabelecimento de relações de vizinhança e da realização de actos culturais comuns. O São Miguel Arcanjo é uma dessas festas religiosas, e de carácter cultural, em que participam elementos das três povoações.


Na tradição judaico-cristã, São Miguel Arcanjo é o anjo protector do povo escolhido por Deus. Também é o padroeiro da comunidade cristã de Argemil da Raia, cujos fieis o celebram no Domingo mais próximo do dia 8 de Maio, - este ano calhou no dia quatro - ao contrário de outras comunidades que o festejam no dia 29 de Setembro, juntamente com Gabriel e Rafael, os únicos anjos que, como ele, têm nome.
A procissão partiu da capela, situada no fundo do povo; percorreu a estrada e dirigiu-se para a bonita igreja moderna, construída num bairro novo, junto ao pinhal, à saída da estrada para São Vicente da Raia. Tanto a igreja como o cemitério são exemplos da pujança da expansão urbana de Argemil e da sua vontade de autonomia relativamente a Travancas, sede da freguesia.

A procissão foi acompanhada por uma banda de música formada por galegos e portugueses. O seu chefe é o senhor Manuel das barbas grandes, gaiteiro da vizinha aldeia galega de Terroso.


Avó Alcina, da GestosaNo dia de São Miguel conheci duas senhoras afáveis. Esta, uma bonita avó transmontana, das de antigamente, natural da Gestosa, aldeia já pertencente ao concelho de Vinhais, aceitou deixar-se fotografar, na sua bonita roupa domingueira, na varanda de uma das mais bonitas casas de granito de Argemil.
A outra, mais nova, de quem não perguntei o nome, por vergonha, foi o meu cicerone. Foi ela que, num gesto espontâneo, me acompanhou até à capela de São Miguel e me deu informações sobre Argemil, aldeia que apesar de pertencer à freguesia de Travancas, conheço apenas de passagem, quando vou ou regresso da praia fluvial de Segirei, das caldas de Sandim ou de Bragança, quando passo pelo Parque de Montesinho.


O São Miguel, como qualquer festa religiosa, tem uma componente profana. Durante a tarde de sol primaveril, a banda, interpretando músicas do Roberto Leal e de outros cantores populares, da dita música pimba, bem procurou dar animação aos festeiros que acorreram ao vistoso e espaçoso largo empedrado, situado nas traseiras da igreja.


Ai bate o pé!
As mulheres e as raparigas são as mais desinibidas. À falta de maridos, namorados, familiares, vizinhos e amigos que queiram dançar, são elas que mais batem o pé!


À volta da praça estava a maiorira dos que foram ver e ouvir a banda modernaça. São os observadores não participantes, sem audácia para se deixarem envolver pelo ambiente festivo. Para o dono do café, a abarrotar de clientes, a festa deve ter deixado boas razões para sonhar com o próximo São Miguej.
Meu amorzinho, põe-te a pau!
A brejeirice, tão ao gosto dos portugueses, não deixou de estar presente nas letras de músicas populares.



Alguns pares, mais desinibidos, para quem dançar é um prazer e uma arte.






Enquanto para uns era festa e bailavam, para a a menina o dia era igual a outros: ao fim da tarde teve de levar as vacas à sala de ordenha.
De regresso a Travancas
Flores do campo à beira da estrada.
Entre Travancas e Argemil, distantes cerca de 1 km, está este bonito cruzeiro. Do local tem-se uma bela vista sobre as duas aldeias, as terras da Lomba e as montanhas da Galiza.
Aqui, condução cuidadosa!
A menos de 300 metros, dois acidentes mortais, numa curva perigosa à entrada de Argemil. As flores e as cruzes prestam homenagem ao “António da Rosa” e ao “João, filho do Américo e da Hélia”.