domingo, 30 de agosto de 2020

Senhor dos Aflitos da pandemia

Covid-19 cancela festejos

 
Cruzámo-nos no final da missa do Senhor dos Aflitos. Nela, encantou-me o olhar de avozinha amorosa; o modo de vestir, elegante e discreto; o lenço garrido a fazer de véu, preso com lacinho ao pescoço;
 
 
 
... a combinação harmoniosa da roupa com a malinha de mão e os sapatos. 
Só a máscara Covid-19, mal colocada, destoava. Mas era esse contraste que lhe dava a graça de avozinha de antanho.

 

A visão da senhora janota avivou a memória  que guardo da minha mãe. Apesar de ter saído da aldeia, nunca cortou o cabelo nem pintou as unhas mas gostava de se aperaltar; nem no luto de meu pai se vestiu de preto!
 
Nonagenária cheia de sopro divino, sentada no sofá da sala a desfiar as contas do rosário e tendo as mãos apoiadas ao colo, confidenciou-me "já vi o meu lugar no céu", sem contudo revelar pressa de partir para o paraíso celeste.  
 
Fim do preâmbulo.


Por determinação das autoridades de saúde, autárquicas e diocesanas, foi cancelada a festa em honra do Senhor dos Aflitos, realizada anualmente  no último domingo de Agosto.



A fim  de evitar a propagação da Covid-19, não se realizaram os festejos laicos, a procissão das velas e missa ns cspela, sábado à noite; nem a procissão dos andores e missa cantada, domingo de manhã.
 
 
 
 
Realizou-se, sim, uma missa campal no amplo  recinto cimentado, por trás da capela.


 
Mesmo sem cartazes publicitários, foram numerosos os católicos que, vencendo o medo, marcaram presença neste Senhor dos Aflitos, sem romaria, para participar na Eucaristia.


 
 
Durante a missa, rezada pelo senhor Padre Delmino,  pároco da freguesia, o comportamento  dos fiéis foi marcado pela responsabilidade, guardando distanciamento social e...
 
 
 
...usando máscara, quase todos, apesar da DGS não ter tornado obrigatório  o uso em espaços abertos. 
 
 
 
Devotos de Nosso Senhor dos Aflitos, espalhados à volta  do recinto...


 
 
... seguem atentamente  a Palavra.

 
 

Em silêncio interior e oração.

 
 
 
 
  Devoção, compenetração...  o carrapito, as mãos...  Arrepiante!
 
 
 
Comoção incontida, perante uma manifestação de religiosidade que dava ao espaço envolvente à capela, a sacralidade dos santuários em que se veneram relíquias ou ocorreram fenómenos religiosos extraordinários.
 
 
 
 
Homens, mulheres e jovens movidos pela fé. 

 

"Quem come deste pão, viverá eternamente."



Procissão do adeus até à capela
Houve quem alegasse, a voz baixa, não usar máscara  Covid-19 porque o senhor padre Delmino também não usava!



À passagem do andor

 


E assim terminou, como espaço aberto à prática religiosa, o Senhor dos Aflitos da pandemia Covid-19.

 


Um olá, na despedida! 
Avó Laurinda, quase noventinha, à espera de boleia para Travancas.
 
 
 
Missão cumprida! A menina, o homem e o trator, Ribeirinha fora, a caminho de Argemil da Raia.
 
 
 
 
Senhor dos Aflitos da Covid-19,  perdeu em festejos mas  ganhou espiritualidade.



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