quarta-feira, 30 de abril de 2014

Eu vi um sapo

Chamam-lhe lindo!



Não há jardineiro assim,
Não há hortelão melhor
Para uma horta ou jardim,
Para os tratar com amor.

É o guarda das flores belas,
da horta mais do pomar;
e enquanto brilham estrelas,
lá anda ele a rondar...




Que faz ele? Anda a caçar
os bichos destruidores
que adoecem o pomar
e fazem tristes as flores.

Por isso, ficam zangadas
as flores, se se faz mal
a quem as traz tão guardadas
com o seu cuidado leal.







E ele guarda as flores belas,
a horta mais o pomar;
brilham no céu as estrelas,
e ele ronda, a trabalhar...

E ao pobre sapo, que é cheio
de amor pela terra amiga,
dizem-lhe que é feio
e há quem o mate e persiga





Mas as flores ficam zangadas,
choram, e dizem por fim:
- «Então ele traz-nos guardadas,
e depois pagam-lhe assim?»

E vendo, à noite, passar
o sapo cheio de medo,
as flores, para o consolar,
chamam-lhe lindo, em segredo...

Afonso Lopes Vieira, in Animais Nossos Amigos




Por conhecer esta poesia é que não faço mal ao sapo do jardim, saído recentemente da hibernação. Também me lembro da história do infeliz Bambo, sapo de um conto de Miguel Torga, trespassado na ponta do pau pelo filho do caseiro, e de eu, há anos, por ignorância, ter morto uma repugnante salamandra.



A este sapo procuro-o quase diariamente. Todavia, se a minha presença o assusta, afasto-me. Agrada-me saber que este nosso amigo está vivo, a guardar as flores do jardim!


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Cumprir Abril

Ex-combatente da guerra do Ultramar
Deficiente ao serviço da Pátria
 
ECCE HOMO

Alertado, em tempos, para a existência deste homem solitário, a viver no século XXI em condições de vida degradantes, impróprias de país que respeite os Direitos Humanos, procurei-o há dias. 



Por feliz coincidência, encontrámo-nos quando ia ao linhar plantar um balde de batatas. Embora acredite no livre-arbítrio, penso que o Supremo Criador me pôs no caminho deste homem simples, no sentido que é dado  por Guerra Junqueiro, para me dar a oportunidade de ser "sal da terra e luz do mundo", parafraseando uma  expressiva exortação do Papa Francisco aos cristãos, no Angelus de fevereiro passado. Bem-haja Deus meu!



Pobre dos pobres
Depois de umas duas horas à conversa, o homem, que comparo a um eremita, despojado de ambição material, deu-me do que tinha - batatas de semente, para plantar. Emocionado, aceitei a oferta.




Dialogando fluentemente comigo e tratando-me com urbanidade, deixou-me a ideia de ser homem de bem e humilde, sem ser subserviente, causando-me admiração a dignidade com que fala de si e a verticalidade da sua postura.





Perante a dávida, não pude deixar de me lembrar do comentário de Jesus, ao observar a  pobre viúva que deitou a sua oferta no gazofilácio do templo de Jerusalém. "Os ricos deram do que lhes sobrava para as ofertas; esta, porém, na sua penúria, ofereceu  tudo o que possuia para viver".




25 DE ABRIL
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

                         Sophia de Mello Breyner Andresen
 

Quarenta anos depois da madrugada libertadora...
está por cumprir, pelos que exercem o Poder,  o  "D" de Desenvolvimento,  constante no programa dos generosos Capitães de Abril.



Bem-aventuranças

Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus.




Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus.



Bem-aventurados os mansos porque herdarão a terra.


Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados.



João Pilão "mal sabe assinar  o nome" mas é um homem livre -   Aqui na minha casa estou bem, ninguém  manda em mim. Dele, tanto se diz "não ser bem feito", como ser  "sociável, respeitador e um bocado inocente"; em casa, ao borralho, com sua gata, em Argemil da Raia, Trás-os-Montes, no dia 25 Abril de 2014, 40 anos depois da Revolução dos Cravos.







domingo, 20 de abril de 2014

Folar da Páscoa

Folar de carne transmontano



Cordeiro na refeição pascal, uma tradição que remonta aos tempos bíblicos. E batatas assadas, não fosse Travancas a Capital da Batata!




Entre nós, transmontanos, a Páscoa é assim!



Glória, Glória, Aleluia!

O Senhor ressuscitou
 

Vigília Pascal

 
  Eu sou o Alfa e o Ómega, o principio e o fim



 
A Luz de Cristo ilumina a Terra inteira!
Aleluia! Aleluia!


Missa de Sábado de Aleluia, ao anoitecer


O jovem José Carlos  ajuda à missa, toca a aleluia, faz sinais... e é assim, ele também, um elemento importante na comunidade cristã.


Cumprida a liturgia pascal, segue-se, no domingo, o ágape do "renascimento para uma nova vida", em família e com amigos, não faltando à mesa o tradicional folar de carne.


sábado, 19 de abril de 2014

Feliz Páscoa

Que o renascer da natureza
Seja também o do renascimento espiritual


Tulipas de jardins de Travancas






















quinta-feira, 17 de abril de 2014

Suicidou-se o senhor Américo

RIP - Requiescat In Pace

 
Realizou-se esta tarde o funeral do senhor Américo Alves, falecido no dia 15, na sequência de um tiro na cabeça, na tarde do Domingo de Ramos. Ainda foi levado com vida para os hospitais de Chaves e de São João no Porto...



 
Este ato suicida é visto pelo Instituto Nacional de Estatística, com base nos suicídios de 2012, como sendo solução para cada vez mais idosos. Nesse ano, em Portugal, num total de 1076 mortes, 727 reportaram a idosos; um aumento de 6,3% em relação a 2011.  Por que se suicidam os velhos, cada vez mais? Que sociedade é esta que temos? Que valores defendemos?



 
Com o seu típico boné, diante de casa, na nevada de 29 de novembro de 2010. Foi ele que me pediu para lhe tirar a foto, para os filhos, em Lisboa, o verem na internet.



 
As interpretações sobre o que leva o ser humano ao ato intencional de se matar são múltiplas.  Para Albert Camus, escritor francês do século XX, "o suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo; decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia". 




 
O senhor Américo não era alcóolico, não consumia drogas, não sofria de perturbações mentais. Também não consta que sofresse de alguma doença incurável ou que passasse por dificuldades financeiras.



 
A caminho de completar 82 anos, em julho, era um homem saudável. Contudo, vivia só. Os seis filhos - quatro homens e duas mulheres - "estão para Lisboa", sendo um deles tenente-coronel de infantaria. Há um ano havia perdido a esposa, acamada durante mais de nove anos. 



 
"O comportamento suicida está associado à impossibilidade do indivíduo identificar alternativas viáveis para a solução de seus conflitos, optando pela morte como fuga a uma situação estressante".


Émile Durkheim, fundador da Sociologia, na sua magistral obra "O Suicídio", defendeu a tese que este não é um ato individual, de desespero, mas sim, um fato social, com causas estruturais. Se num dado contexto social milhares de idosos ou desempregados, por exemplo, se suicidam é porque há causas comuns, evidenciando que a sociedade está num estado de anomia, disfuncional. O que está a levar então os nossos idosos, com baixo grau de integração social, a práticas suicidas, cada vez mais?




O senhor Américo Alves no magusto de 2011, no Lar do Senhor dos Aflitos, onde a esposa, entretanto falecida, estava acamada desde 2005. Não sendo "homem de cafés", era uma visita assídua do lar, onde se sentiria mais acompanhado.



Que a sua alma descanse em paz.





Não morrerá para sempre


A expressão "Não morrerá para sempre", ouvida num cântico da missa  de corpo presente da senhora D. Maria dos Santos Pires, falecida em São Cornélio, aos 91 anos, tem uma importante carga simbólica. Expressa, para além da morte do corpo físico, a crença na ressurreição.



A missa de corpo presente realizou-se segunda-feira, na igreja  de São Cornélio, cheia de gente da freguesia.



Os funerais, porque envolvem habitantes das três aldeias da paróquia, são acontecimentos sociais importantes na comunidade pois, além de serem propícios ao desenvolvimento de relações interpessoais, cimentam laços de solidariedade entre vizinhos.



De igreja, o cortejo fúnebre seguiu para o cemitério de São Cornélio. Antes de ser construído, em 1992, os defuntos da aldeia eram enterrados em Travancas.







Próximo funeral

Numa população envelhecida, a morte é uma constante no quotidiano da comunidade.  Nesta semana contabilizam-se três falecimentos.

O terceiro é o do senhor Ramiro Sá, um "jovem" com menos de 70 anos, falecido ontem,  de ataque cardíaco, quando via televisão. Por motivos religiosos, que proibem a realização de funerais entre Sexta-Feira Santa e a Páscoa,  o seu funeral só se realizará na próxima segunda-feira.



 

 Para quando a notícia de um nascimento?