Covid-19 cancela festejos
Cruzámo-nos no final da missa do Senhor dos Aflitos. Nela, encantou-me o olhar de avozinha amorosa; o modo de vestir, elegante e discreto; o lenço garrido a fazer de véu, preso com lacinho ao pescoço;
... a combinação harmoniosa da roupa com a malinha de mão e os sapatos.
Só a
máscara Covid-19, mal colocada, destoava. Mas era esse contraste
que lhe dava a graça de avozinha de antanho.
A visão da senhora janota avivou a memória que guardo da minha mãe. Apesar de ter saído da aldeia, nunca cortou o cabelo nem pintou as unhas mas gostava de se aperaltar; nem no luto de meu pai se vestiu de preto!
Nonagenária cheia de sopro divino, sentada no sofá da sala a desfiar as contas do rosário e tendo as mãos apoiadas ao colo, confidenciou-me "já vi o meu lugar no céu", sem contudo revelar pressa de partir para o paraíso celeste.
Fim do preâmbulo.
Por determinação das autoridades de saúde, autárquicas e diocesanas, foi
cancelada a festa em honra do Senhor dos Aflitos, realizada
anualmente no último domingo de Agosto.
A fim de evitar a propagação da Covid-19, não se realizaram os festejos laicos, a procissão das velas e missa ns cspela, sábado à noite; nem a procissão dos andores e missa cantada, domingo de manhã.
Realizou-se, sim, uma missa campal no amplo recinto cimentado, por trás da capela.
Mesmo sem cartazes publicitários, foram numerosos os católicos que, vencendo o medo, marcaram presença neste Senhor dos Aflitos, sem romaria, para participar na Eucaristia.
Durante a missa, rezada pelo senhor Padre
Delmino, pároco da freguesia, o comportamento dos fiéis foi marcado pela responsabilidade, guardando
distanciamento social e...
...usando máscara, quase todos, apesar da DGS não ter tornado obrigatório o uso em espaços abertos.
Devotos de Nosso Senhor dos Aflitos, espalhados à volta do recinto...
... seguem atentamente a Palavra.
Em silêncio interior e oração.
Devoção, compenetração... o carrapito, as mãos... Arrepiante!
Comoção incontida, perante uma manifestação de religiosidade que
dava ao espaço envolvente à capela, a sacralidade dos santuários em que se veneram
relíquias ou ocorreram fenómenos religiosos extraordinários.
Homens, mulheres e jovens movidos pela fé.
"Quem come deste pão, viverá eternamente."
Procissão do adeus até à capela
Houve quem alegasse, a voz baixa, não usar máscara Covid-19 porque o senhor padre Delmino também não usava!
E assim terminou, como espaço aberto à prática religiosa, o Senhor dos Aflitos da pandemia Covid-19.
Um olá, na despedida!
Avó Laurinda, quase noventinha, à espera de boleia para Travancas.
Missão cumprida! A menina, o homem e o trator, Ribeirinha fora, a caminho de Argemil da Raia.
Senhor dos Aflitos da Covid-19, perdeu em festejos mas ganhou espiritualidade.