Domingo de tarde, dia de Páscoa, subi de Travancas até ao Vale Grande, ao encontro da anunciada queda de neve nas terras altas de Trás-os-Montes. Estava frio e o sol brilhava.
A caminho do Vale Grande dei comigo a interrogar-me sobre a razão do nome dado ao mais alto monte da Serra de Mairos.
Deixei o carro estacionado junto às casas desabitadas que noutros tempos dariam guarida a lavradores, comerciantes e contrabandistas. Por entre as ruínas encontra-se um pombal ainda em bom estado de conservação. Seriam as pombas fonte de alimento de moradores isolados no alto da serra?
A partir das casas em ruínas fiz o resto do caminho a pé até aos três aerogeradores situados no lado português da fronteira com a Galiza.
Próximo do mais alto dos aerogeradores passa a fronteira, aprovada nos reinados de D. Luis, rei de Portugal e de Dona Isabel II, de Espanha, por tratado de rectificação das fronteiras, assinado em 29 de Setembro de 1864 e ratificado em 4 de Novembro de 1866.
O ponto mais alto, 1088 metros, assinalado pelo marco geodésico, fica a 300 metros da linha da fronteira, em território espanhol. No marco pode ler-se, a letras vermelhas, grandes, “Na Espanha e Portugal falamos igual”. Será? Obra de nacionalista galego? De iberista?
Quando me encontrava no alto do Vale Grande, o Sol deixou de brilhar e repentinamente começou a nevar, com grande intensidade. A alegria apossou-se de mim.
Mas o Sol regressou pouco depois e em pouco tempo derreteu o sonho de uma Páscoa nevada.
O município de Vilardevós, Galiza, criou um roteiro turístico e sinalizou o itinerário, denominado Ruta do Contrabando, abrangendo as aldeias galegas de Arzádegos, Vilarello, Florderrei, Terroso e Soutochao, situadas ao longo da fronteira. A iniciativa, bastante interessante, deveria merecer o apoio da Câmara e dos serviços de turismo flavienses, pois é sabido que Travancas e outras aldeias da raia ficavam na rota do contrabando.
Placa na fronteira, sinalizando o caminho do contrabando, destruída por incêndio. Que faz a cruz da Ordem do Hospital de São João ou Ordem de Malta, importante na história de Portugal, no brasão de Vilardevós? No concelho há um mosteiro, em tempos ligado à Ordem de Malta, que dava acolhimento aos peregrinos de Santiago de Compostela oriundos de Portugal por caminhos secundários. Pode ser essa a razão.
Aldeia de Travancas, à esquerda, vista a partir do Vale Grande. Em primeiro plano, as ruínas das casas que em tempos existiram no Vale Grande.
Sol e sombras. Cota de Mairos e Vale Grande vistos a partir da estrada de Feces de Cima (Galiza).
Serra de Mairos, aerogeradores e Vale Grande vistos a partir de São Cornélio, freguesia de Travancas. Uma estrada aberta nos últimos anos permite aos automobilistas deslocarem-se de Mairos à cota.
Anoitecer no Vale Grande no dia de Páscoa.