domingo, 30 de setembro de 2012

Arranque da Batata

Campanha terminou
 
Travancas é terra de batata de excelente qualidade, nunca é demais sublinhá-lo.
 
 
 
Setembro é o mês da colheita do tubérculo, semeado em abril, nas terras frias do Planalto Ecológico que vai de Travancas à Bolideira. 
 
 
 
A azáfama é grande nesta altura, embora nada comparável com outros tempos, anteriores à adesão de Portugal à CEE.
 
 
 
A abertura do mercado nacional à livre importação de batata kennebec (casca branca)  e desirée (casca vermelha) não foi um bom negócio, para o setor.
 
 
 
A produção caiu abruptamente em Trás-os-Montes, e Travancas não escapou à razzia. A produção na freguesia, este ano, rondou os 60 vagões, diz o presidente da Junta, a brincar, talvez.

Há trinta anos, porém,  produziam-se mais de 100 vagões, incluindo batata de semente, que ficava armazenda, em valas, por entre palha, coberta com terra, na Bolideira. Camionetas, carregadas de batatas, faziam fila, junto à cooperativa, em Chaves, à espera de vez para descarregar.

 
 

Segundo outras fontes, a produção deste ano, porém, andaria pelos 20 vagões. Opinião partilhada por Daniel Sá e Tó Ribeiro.  A capacidade de um vagão é de 10 000kg.
 
 

Na aldeia, sede da freguesia, entre quinze a vinte agricultores vendem batata para o mercado, embora apenas uns seis a produzam em grande quantidade.  Batata não escoada para o mercado ou imprópria para consumo, é dada de alimento aos recos.



Já há largos anos que o arranque é mecanizado, feito por arrancadores atrelados aos tratores, embora eu só agora tenha visto. A máquina arrancadora tem duas cunhas largas, que se espetam na terra, por baixo da planta, passando batatas, ramagem e terra por uma esteira, em forma de grade, à medida que o trator avança.


Por um processo de trepidação, semelhante ao ato de peneirar, a terra mais fina vai caindo, por entre os ferros da grade. A batata, ao cair por cim da terra, fica pronta para ser apanhada à mão. 



Arranque e apanha de batata não são feitos ao mesmo tempo. O arranque é feito  ao fim da tarde, altura em que a rama, sem a humidade da manhã, não se enrosca no arrancador. 
 
 
Por outro lado, a apanha, feita às primeiras horas do dia, é menos cansativa.
 
 


Quando cheguei ao batatal do Berto, antes das nove horas, já quase toda a apanha estava feita, num alegre convívio. 
 
 

 
Não se pagam jeiras; o trabalho é feito por familiares e vizinhos.
 
 

A poucas centenas de metros, no batatal do Eduardo, de extensão  maior, estavam quatro apanhadores. Deles, fazia parte um casal de reformados, vindo de França, para participar na colheita.
 
 
 
Neste grupo, ajudei, por momentos, a apanhar batatas. Cada um tinha num rêgo. Como me atrasasse em relação aos demais, comentei que, se fosse à jeira, receberia metade dos outros jeireiros. De pronto ouvi um "bô!" Explicaram-me que tendo produtividade baixa, não seria sequer chamado! Vida dura, a de quem trabalha no campo, pensei eu!
 
 
Por associação de ideias, também pensei na mobilidade social... em grupos sociais que ascendem na escala social, noutros que descem.
 


Trabalho feito com luvas para proteger as mãos. Outrora seria assim?
 
 
Sem o arrancador seria necessário uma manhã inteira para arrancar, apanhar e ensacar a produção de um  batatal de pequena dimensão. Neste terreno, calculo que a produção terá ultrapassado 4 000 kg.
 
 
 
A batata, antes de ser comercializada, é sujeita a uma triagem  no armazém.  No entanto, o preço pago ao agricultor mal cobre os custos de produção, razão, entre outras, que justificam a quebra da produção em toda a região transmontana.
 


 Arranque com guinchas

Há pessoas, como eu, que semeiam batatas em pequenos linhares, não fazendo uso de maquinaria para o arranque de alguns rêgos.



Usam-se guinchas mas é preciso ter cuidado para não rachar as batatas. Como a experiência e destreza são escassas, estraguei diversas. Essas devem ser consumidas, antes das outras, não dando tempo que apodreçam.



A produtividade é elevada se, de cada batata semeada, se obtiver acima de quinze, de média e grande dimensão.


Penso que a produção no linhar não foi má, agradando-me  a qualidade. No entanto, as batatas mais produtivas foram as que  tinham sido semeadas, afastadas da sombra das nogueiras.
 

O mérito da produção é do meu vizinho que orientou a sementeira e regou as batatas na minha ausência.  Fazendo conta aos custos, com adubo, batata de semente espanhola e trabalho empregue, concluo que mais vale comprar um saco de 20kg por seis euros! Todavia, por carolice, não deixarei de continuar a semear batatas!
 
 


Satisfação do presidente da Junta de Freguesia pela colheita de batatas grandes, religiosamente guardadas para as mostrar a amigos e forasteiros. A maior pesava 1,660 kg!  O segredo desse sucesso, segundo ele, está na terra bem estrumada e na rega!
 
 
 
Batata de Travancas - cozida, frita ou assada, o sabor que regala!
 
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Vandalismo

Bota abaixo Capital da Batata!

Desde há anos que nos habituámos a ver, junto ao campo da bola, a placa, mandada colocar pela Junta de Freguesia, a indicar, a quem chegava à povoação, que estava a entrar na Capital da Batata. Todos sentíamos uma pontinha de orgulho, por Travancas ser capital da batata, outrora, a principal fonte de riqueza de quem tinha lavoura e de quem andava à geira.
 
 
 
 

Capital da B.T.T.
Embora  a designação, que nos autorgamos, não tenha merecido contestação por parte de outras terras transmontanas, produtoras de batata, há quem nos últimos tempos tenha embirrado com  a placa toponímica e tenha, em tempos, apagado os "ás" da palavra batata. Neste verão, possívelmente, o mesmo personagem, insatisfeito, partiu os ferros da placa e escondeu-a.  Foi com tristeza que, em agosto, no regresso à aldeia, dei  pela falta deste elemento identificativo. Os emigrantes devem ter sentido o mesmo.
 
 



Estranhando a ausência da placa, falei com o Beto para saber o que se passara. Explicou-me que a descobriu, danificada, num giestal. Guarda-a num armazém do Café Central e logo que haja oportunidade, tenciona colocá-la na estrada; mas mais perto da povoação, com o intuito de inibir novos atos de vandalismo por parte de quem age às escondidas.
Beto, os filhos e amigos deste planalto ecológico, conscientes da visibilidade que o tubérculo dá à freguesia, ficam a aguardar a reposição de um símbolo que nos identifica enquanto comunidade produtora de batata, de excelência!
 
 
 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Achei um ninho!


Mãe passarinho não larga filho sozinho
 
No dia 29 de maio, encontrei este ninho na Cortinha, numa giesta que me preparava para cortar.
Emocionado, recordei-me de um ninho da minha infância, vendo-me encarrapitado no alto de um choupo, no Ferrado de Cabrões, a espreitá-lo.
Salvou-se assim a giesta e o ninho!

Espero que na minha ausência forçada, de quase três meses, nenhuma cobra rateira tenha comido os ovos e que os quatro passarinhos andem por aí a fazer  o pino a voar.

Em finais de agosto, vi um, no pátio da casa, sem conseguir  levantar voo, a chamar pela mãe.  Ela, chilreando, aparecia, desconfiada da minha presença, levando-lhe o alimento ao bico  e incentivando-o a voar. Mãe é mãe!



 
 
É de Miguel Torga, escritor transmontano,  o belo poema que transcrevo:
 
SEGREDO
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...