Que bela história!
No dizer do Alquimista
Narcissus pseudonarcissus
O narciso é uma bolbosa que, no Planalto de Travancas, a 900 metros de altitude, floresce a poucos dias do equinócio da primavera.
Narciso, porém, além de ser nome de flor, é um mito grego que ao longo de milénios tem fascinado artistas, poetas e escritores.
Desde a Antiguidade greco-romana que o mito da flor possui várias interpretações. Paulo Coelho, escritor brasileiro, na obra "O Alquimista" apresenta a versão que se segue.
O Alquimista conhecia a
lenda de Narciso, um rapaz que todos os dias se debruçava na margem de um lago
para contemplar sua beleza. Era tão fascinado por si mesmo que certa
manhã,
caiu no lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, surgiu uma flor, que chamaram
de Narciso.
Mas não foi assim que Paulo Coelho, na sua obra-prima, terminou a lenda. Continuando...
O Alquimista dizia que, quando
Narciso morreu, vieram as deusas do bosque e viram o lago, que antes era de água doce, transformado num lago de
lágrimas salgadas.
- Por
que você chora? - perguntaram
as deusas.
-
Choro por Narciso -
respondeu o lago.
-
Ah, não nos espanta que
você chore
por Narciso -
disseram elas. - Afinal
de contas, apesar de sempre corrermos atrás dele pelo bosque,
você era o
único que contemplava de perto sua beleza.
- Mas
Narciso era belo? -
perguntou o lago.
-
Quem melhor do que você poderia saber
disso? -
disseram, surpresas, as deusas - Afinal
de contas, era nas suas margens que ele se debruçava todos os dias para
contemplar-se!
O lago ficou quieto por
algum tempo. Por fim disse:
-
Choro por Narciso, mas jamais notei
que Narciso era belo. Choro porque, todas as vezes que ele se debruçava sobre
minhas margens, eu podia ver -
no fundo dos seus olhos - a
minha própria beleza refletida.
"Que bela história", pensou o Alquimista.
Que bela história! Ou que fascinante enigma?
Será que Paulo Coelho, pela voz do Alquimista, fala do egoísmo do ser humano, preso à sua própria imagem,
em vez de buscar o belo nos outros e descobrir o que têm de bom?
Pelo contrário, o escritor não se fica pela ideia superficial de que Narciso seja um ser vaidoso, narcisista, contemplando a sua própria beleza física, refletida nas águas do lago.
Espiritualista, Paulo Coelho faz uma interpretação filosófica do mito da flor e, na enigmática expressão do Alquimista - Que bela história - leva-nos a concluir que Narciso, num processo introspectivo, via na sua imagem, refletida nas águas do lago, a imagem do Criador. Essa interpretação simbólica vai ao encontro da própria Bíblia, livro sagrado, que diz ser o homem feito à imagem e semelhança de Deus!
"Narciso contemplou em absoluto a grandiosidade da alma do ser humano, e apaixonou-se por ela, tornou-a seu objetivo e seu foco de admiração para sempre".
Mas que bela história, Alquimista!
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