domingo, 6 de abril de 2014

Narciso, a flor do mito


Que bela história!
No dizer do Alquimista

 Narcissus pseudonarcissus

O narciso é uma bolbosa que, no Planalto de Travancas, a 900 metros de altitude, floresce  a poucos dias do equinócio da primavera.



Há muitas variedades de narcisos silvestres e cultivadas em jardins.



Narciso, porém, além de ser nome de flor, é um mito grego que ao longo de milénios tem fascinado artistas, poetas e escritores. 




Desde a Antiguidade greco-romana que o mito da flor possui várias interpretações. Paulo Coelho, escritor brasileiro, na obra "O Alquimista"  apresenta a versão que se segue.



 

O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um rapaz que todos os dias se debruçava na margem de um lago para contemplar sua beleza. Era tão fascinado por si mesmo que certa manhã, caiu no lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, surgiu uma flor, que chamaram de Narciso.



 
Mas não foi assim que Paulo Coelho, na sua obra-prima, terminou a lenda. Continuando...

O Alquimista dizia que, quando Narciso morreu, vieram as deusas do bosque e viram o lago, que antes era de água doce, transformado num lago de lágrimas salgadas.





- Por que você chora? - perguntaram as deusas.

- Choro por Narciso - respondeu o lago.

- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso - disseram elas. - Afinal de contas, apesar de sempre corrermos atrás dele pelo bosque, você era o único que contemplava de perto sua beleza.



 

- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago.
- Quem melhor do que você poderia saber disso? - disseram, surpresas, as deusas  - Afinal de contas, era nas suas margens que ele se debruçava todos os dias para contemplar-se!



 
O lago ficou quieto por algum tempo. Por fim disse:
 - Choro por Narciso, mas jamais notei que Narciso era belo. Choro porque, todas as vezes que ele se debruçava sobre minhas margens, eu podia ver - no fundo dos seus olhos - a minha própria beleza refletida.

"Que bela história", pensou o Alquimista.



Que bela história! Ou que fascinante enigma?
Será que Paulo Coelho, pela voz do Alquimista, fala do egoísmo do ser humano, preso à sua própria imagem, em vez de buscar o belo nos outros e descobrir o que têm de bom?





Pelo contrário, o escritor não se fica pela ideia superficial de que Narciso seja um ser vaidoso, narcisista, contemplando a sua própria beleza física, refletida nas águas do lago.  



Espiritualista, Paulo Coelho faz uma interpretação filosófica do mito da flor e, na enigmática expressão do Alquimista - Que bela história - leva-nos a concluir que Narciso, num processo introspectivo, via na sua  imagem, refletida nas águas do lago, a imagem do Criador. Essa interpretação simbólica vai ao encontro da própria Bíblia, livro sagrado, que diz ser o homem feito à imagem e semelhança de Deus!



"Narciso contemplou em absoluto a grandiosidade da alma do ser humano, e apaixonou-se por ela, tornou-a seu objetivo e seu foco de admiração para sempre".



Mas que bela história, Alquimista!



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