Casas esborralhadas junto à fronteira
Desde
que Palheiros entrou no meu imaginário, que andava com a ideia conhecer
e fotografar as ruínas da antiga aldeia, destruída nas escaramuças
entre portugueses e espanhóis, nos anos que se seguiram à Restauração da
Independência de Portugal, em 1640.
No foto, localização da Cota de Mairos ou Alto da Escocha, aerogeradores, ruínas junto ao rigueiro de Palheiros e a linha da raia, demarcada pelo Tratado de Lisboa, em 1864, mas só ratificada em 1906. Perdida na fronteira inóspita, não foi tarefa fácil descobrir a Machu Pichu raiana.
1º Dia
No primeiro dia, saindo de Travancas, em bicicleta, encontrei, no alto da Fonte Fria, a cuidar de castanheiros enxertados, o senhor Manuel Santos, caçador de Argemil, que me indicou o caminho para chegar ao lugar.
Descendo para o rigueiro de Palheiros, por um caminho íngreme e pedregoso, rodeado de altas giestas, passei por um potente canhão de água que regava o milharal do informador. Numa curva, como que por magia, surge a aldeia de Florderey. A vista é fantástica.
Calheia por onde deveria passar para chegar às ruínas. Como não compreendesse a palavra - um regionalismo - e pedisse ao senhor Manuel para a repetir, ele explicou-me, meio atrapalhado, que calheia é um caminho antigo e estreito com muros de pedra.
Para quem aprecia o contato com a natureza, o trajeto é tonificante.
Para quem aprecia o contato com a natureza, o trajeto é tonificante.
Alguns dos lameiros onde o Ruço, nomeada do caçador, bota as vacas a pastar.
Montes de feno, para alimentar o gado no inverno.
As ruínas de Palheiros ficam aqui perto, à esquerda, antes do tanque, mas não encontrei o sítio - segui em frente e para a direita - regressando a Travancas pelo caminho da ida.
2º Dia
À descoberta de Palheiros
No segundo dia à descoberta de Palheiros, saí outra vez em bicicleta mas em direção ao Vale da Preta. De lá, desci pelo caminho da Faceira até à fonte Salgueiro, onde outrora existiu uma pia, para matar a sede aos viajantes e montadas dos romeiros portugueses que se dirigiam a Vilardevós. Neste concelho galego, um hospital e um albergue da Ordem de Malta, acolhiam e davam tratamento aos peregrinos de Santiago de Compostela.
Mais abaixo, a poucos metros da fronteira, na Faceira, num lameiro do José Maldonado e numa terra pegada, do Nicolau, encontrei dois casarelhos de pastores que, sendo belos exemplares do património edificado agro-pastoril, atestam a importância do pastoreio nas terras da raia.
Passagem de pedras, na Faceira, sobre o regato de Palheiros. Portugal fica em primeiro plano.
Calheia abandonada.
Desde que a fronteira alfandegária foi abolida em 1986, contrabandistas e outras pessoas deixaram de usá-la para ir a Arçádegos. Agora é mais fácil, vai-se de carro e não há guardas-fiscais.
Mas, porque não limpar o caminho com um trator, permitindo que adeptos do sanderismo façam caminhadas ecológicas até às históricas ruínas?
Mas, porque não limpar o caminho com um trator, permitindo que adeptos do sanderismo façam caminhadas ecológicas até às históricas ruínas?
Daqui para baixo, o caminho que, pelo lado esquerdo, conduz às ruínas, está coberto de vegetação. Caminhei, debaixo de gestais e levando a bicicleta pelas mãos...
...até encontrar uma vereda que pastores de Argemil utilizam para subir com o gado ao Vale Grande.
Tal como na tarde anterior, andei às voltas, incluindo por lugares onde já estivera, sem descobrir as casas arruinadas de Palheiros.
Desolado, fui-me embora sem voltar para trás, indo em direção ao caminho que leva ao posto de vigia florestal.
Para ultrapassar a vedação, a vedar a passagem no "caminho público" de Argemil a Arçádegos, deitei a bicicleta por cima e rastejei-me.
Depois, subi a íngreme encosta, situada em primeiro plano, por um caminho que vai dar aos estábulos do senhor Carlos, conhecido pela nomeada de Cacá.
Já quase no alto, uma placa do PRODER - Programa de Desenvolvimento Rural - informa que no local está em curso um investimento total de 163.180,48 euros, para reflorestamento dos baldios de Argemil, financiado pela União Europeia em 130.544,38 euros.
Dirigi-me ao posto de vigia florestal, onde, por sorte, o senhor Manuel Santos fazia companhia à esposa, a trabalhar lá como vigilante. Embora já me tivesse prometido que me levaria às ruínas, caso não desse com elas, foi a mulher, mais afoita, que lhe disse: "Leva-o lá no trator!" E ele levou!
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