quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Matança do reco do Tó

Tradição das matanças em marcha

Apesar de ter sido avisado da matança, falhei o cuincar, momento em os recos, sentindo a faca do matador espetar-se-lhe no coração, soltam altos e doridos berros. Quando cheguei à matança do To Ribeiro já os dois bácoros estavam a ser chamuscados.




Chamuscar a pele dos recos com palha passou à história. Agora é sempre com maçarico a gás, muito mais eficiente. Enquanto um chamusca, apontando o maçarico à pele, um ou dois, enquanto está quente, raspam-na com navalhas. Nas unhas e orelhas, por serem rugosas, o trabalho é moroso.


Depois de chamuscada e raspada a pele, segue-se a lavagem exterior do animal.


Quando finalmente fica lavado, abre-se o reco, começando pela couracha. É dela que se fazem os rijões,  como se diz fora da terra. 



Nos últimos anos, o Carlos e o pai são quem tem matado os recos, normalmente dois, ao  Tó Ribeiro. O Carlos é  o matador doutras matanças também. Mas, em Travancas, Argemil e São Cornélio, como a população está cada vez mais envelhecida, não são todas as famílias que matam. Mesmo assim, e apesar da população continuar a diminuir, o Carlos ainda mata para cima de vinte.   



Os dois recos, depois de abertos e retiradas as entranhas, ficaram pendurados até ao dia seguinte, a apanhar frio, para a carne enrijar.  No interior da loja, as senhoras cortam carnes e preparam  miudezas.


Tudo se aproveita da carne do reco. Dela não se fazem só alheiras, chouriços, salpicões e presuntos. São um excelente manjar as ceboladas de iscas de fígado de porco!


Rijões fritos, acompanhados com batatas cozidas ou cortados com navalha num naco de pão, são um petisco que todo transmontano da gema bem conhece e aprecia.



Antigamente, por se  consumir ao longo do ano todo, dizia-se, com propriedade, que o reco era o goberno da casa!


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