Grupos de senhoras de São Cornélio, Argemil e Travancas têm o hábito salutar de caminhar ao longo da estrada que une as aldeias do planalto à Bulideira.
No entanto, há percursos, como os que outrora partiam de Argemil e Travancas para Palheiros, e de lá para Arçádegos, que pela beleza paisagística, património edificado, histórias de contrabando e de emigração a salto, merecem ser redescobertos.
Acedendo ao convite da filha, de irmos a Palheiros, a pé, assumi o papel de guia. Partimos do cruzeiro de S.Tiago, em direção à Fonte Fria, indo pelo caminho que fazem os pastores, ao anoitecer, de regresso a Argemil.
Sempre a subir, passámos por alguns soutos, harmoniosamente plantados...
... e searas de centeio. Vistas largas, paisagem deslumbrante.
Altaneiro, o posto de vigia florestal servia de bússula. Todavia, de pouco nos valeu, porque o caminho tomado na bifurcação desembocou na estrada alcatroada, um pouco abaixo do Vale da Preta.
No Vale da Preta seguimos pelo estradão que desce para a Fonte Salgueiro. Trajeto acolhedor, bordejado por carvalheiras.
Rigueiro de Palheiros, Nascido a umas centenas de metros acima, na Cota de Mairos, ainda leva pouca auga. No tratado de demarcação de fronteiras, em 1864, ficou a servir de linha divisória, entre os reinos de Portugal e Espanha.
Do lameiro e da seara para baixo, até às ruínas, a encosta é íngreme; A calheia da Faceira e o trilho, outrora também percorridos por contrabandistas, estão cobertos por giestas e vegetação espessa.
Para adeptos de caminhadas lúdicas, e para bem da preservação da memória coletiva da gente raiana, torna-se urgente a sua limpeza e sinalética.
Relativamente à primeira visita que fiz a Palheiros, de descoberta das ruínas em 2014, noto uma progressão do matagal, na área das casas esborralhdas. Impossível chegar ao marco 271!
Palheiros, no termo de Argemil, apesar de ter pertencido a Portugal desde o Condado Portucalense, tal como Arçádegos e outras aldeias galegas da raia, em 1641 era uma aldeia habitada por galegos.
Nas guerras da Restauração, 1640-1668, foi incendiada, entre outras, por militares do castelo de Monforte de Rio Livre, em represália por os espanhóis terem saqueado e incendiado Travancas, Argemil e São Vicente.
Tinha 60 casas colmeadas. Os seus moradores fugiram e nunca mais regressaram, mesmo após a assinatura do Tratado de Paz, pelo qual a Espanha reconhecia a Restauração da Independência de Portugal.
Finda a visita às ruínas, fizemos o caminho inverso. Subimos a encosta por uma vreia que ladeia os lameiros. Paisagem bucólica de onde não havia pressa em sair.
Já quase no alto da encosta, a vista alargou-se para poente e vimos à nossa frente o marco da Cota, território espanhol, e os três aerogeradores portugueses do Vale Grande.
Descida para a Fonte Fria, local onde se construiu o primitivo quartel da guarda-fiscal de Travancas. A mudança para a aldeia fez-se. porque os guardas se queixavam do isolamento e do frio.
Caminhada, sob sol ardente, quase a terminar. Embora não tenha medido distâncias nem contado o tempo, calculo que em cada sentido, andando devagar, tenhamos demorado cerca de uma hora.
Travancas à vista. Castanheiros do Vale da Bouça e últimas casas da aldeia, na estrada que vai para a fronteira.
Foi uma caminhada revigorante. Lenitivo para desbravar, entre outros, o Caminho do Abade de Baçal entre Travancas e Mairos.
4 comentários:
Atrevidamente, e sorrateiro, com que gosto acompanhei ao autor neste delicioso passeio!
Um Conto muito bem contado!
E as fotografias «acibam» a vontade de ter ido convosco.
"Gracias" por poder partilhar o conto as fotografias e ter dado asas à minha imaginação.
Bem, também se me amargaram umas pétalas da saudade dessa Normandia Tamegana!
Luís Henrique Fernandes
Olá,Romeiro Tamegano!
Que bom tê-lo por cá! Foi uma pena terem acabado os Encontros que nos levavam a conhecer as nossas terras raianas.
Desde março que estou fuxido da pandemia, refugiado na raia, onde pretendo dedicar-me a caminhadas físicas, intelectuais e espirituais.
Engraçado, ainda ontem, a arranjar estantes de livros, estive com "A Missa de Sétimo Dia" na mão! Há coisas do demo! Saudações amistosas.
Caro Adriano Pereira
Hoje não consigo aceder ao seu e-mail, via perfil.
Em 21 de Outubro de 2015 enviei DOIS PITIGRAMAS (Textos) pelo e-mail -.-aapereyra@sapo.pt.
Não sei se o Adriano os recebeu.
Naquela altura usava outro e-mail que não o de hoje.
Para não me alongar AQUI, agradecia me confirmasse o seu e-mail, uma vez que é(era) público.
Agradeço a resposta ao meu comentário.
Depois da confirmação do e-mail, e com sua licença, entrarei em contacto consigo.
Cumprimentos e votos da amelhor saúde para o Adrinano Pereira e Família
Romeiro de Alcácer
Olá, Romeiro de Alcácer
Até Julho de 2015 usei o email "euroluso" "@" "gmail". Na página de abertura deste blogue explico porque mudei para aapereyra@sapo.pt. Não consigo ter acesso ao histórico da anterior caixa de correio. Saudações raianas.
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