terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Cantar dos Reis

Em Travancas Cantavam-se os Reis


De seis a vinte de Janeiro, cantavam-se os Reis em Travancas. Era uma tradição bonita que pouco a pouco se foi perdendo.

“Aqui então os Reis à porta,
Dispostos p’ra lhos cantar;
Se os senhores nos dão licença,
Vamos-lhos a começar!”


Era assim. Depois da ceia, bem tarde, quando tudo se acomodava, juntava-se o grupo que saia para a noite. Com um barbeiro de meter medo, bem agasalhados, a luz baça do lampião indicando o caminho, lá iam com a alma em festa.


Cantavam às portas de vizinhos e de amigos, quer do povo, quer de fora.

“Quem lhes vem cantar os Reis,
Da sorte que as noites estão,
Certo é que lhes quer bem,
Da raíz do coração.”


Com vozes afinadas, ferrinhos e concertina, devem-se as Boas Festas, acordando a quem a sono solto dormia,

“Boas Festas, Boas Festas,
Boas Festas vimos dar
Que nasceu o Deus Menino
Em Belém, p’ra nos salvar!”

Como não lembrar algumas vozes de alguns cantadores dos Reis: o Carlos e o Zé Roque, o Acúrcio, o João Caseiro, o Berto que tão bem fazia o “cima”, o “ti” Zé Manuel e o Chico Pinto.



Que dizer daquela noite em que cantaram os Reis ao Ti Martinho e beberam aguardente por uma cafeteira…



Ou então, uma outra noite em que um grupo de estudantes quis fazer levantar da cama a D. Esperança e o Sr. Rodrigues que os receberam com biscoitos e vinho do Porto. Foi uma risota pegada durante a cantoria, porque a espera foi longa e tinha-se-lhes acabado o reportório.










Às vezes, os donos da casa tardavam a abrir. Então eram delicadamente pressionados:

“Se nos querem dar os Reis,
Não nos estejam a demorar,
Nós somos de muito longe,Temos jornada para andar!”

Outras vezes, mais raras, nem abriam. Então vinha o descante:

“Estes Reis que nós cantamos,
Tornamos a descantar;
Estes barbas de farelos,
Não têm nada p’ra nos dar!”
Mas quando abriam, os cantadores eram bem recebidos. Aqueciam-se, comiam, bebiam, recebiam os “Reis”:

“Daqui de onde estou bem vejo,
A faca estar a saltar,
Para cortar a chouriça,
Que os senhores nos querem dar!”

Depois, mais aconchegados, continuavam a cantar e por último, despediam-se:

“Despedida, despedida,
Como a deu a cereja ao ramo;
Fiquem com Deus, meus senhores,
Queira Deus que de hoje a um ano!”










Era assim… Cantavam-se os Reis em Travancas…

Texto de “Mariana”
Fotos de euroluso









3 comentários:

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