Antigo albergue de peregrinos em ruínas

Nos dias de hoje encontra-se em ruínas. Os tijolos, na fachada do piso superior, indiciam que já houve tentativa de evitar a degradação do edifício, insuficiente, como se pode observar.
Aquando da sua edificação, contrastando com os casebres de colmo, da aldeia,
terá tido cobertura de telha e paredes caiadas, a exemplo das ricas casas
citadinas.
Quanto à sua propriedade, privada, não é de excluir que tenha sido património da Igreja até à extinção das ordens religiosas no século XIX. Só que, tal como aconteceu a muito do património confiscado pelo Estado, tal como propriedades agrícolas, conventos, obras de arte e outros bens materiais, com o decorrer dos tempos terá passado para mãos particulares.
Apesar do estado de abandono em que se encontra, o antigo albergue conserva na fachada alguns elementos decorativos que valorizam o histórico património.
Cruz e voluta dupla - ornato entalhado no granito em forma de espiral.
Bonito lintel - padieira de granito sobre a ombreira da porta - datado de 1782, em baixo relevo. A data de MDCCLXXXII, em algarismos romanos, deve ser a da construção do albergue, no reinado de Dona Maria I, a Viradeira, por seguir uma política de apoio à igreja, oposta à de seu pai, Dom José I, cujo primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, se notabilizou pela perseguição aos jesuítas.
Ombreira e nicho dedicado às alminhas do Purgatório, encimado por uma cruz e voluta dupla. O pequeno altar, incrustado na frontaria do albergue, hoje considerado património artístico-religioso do mundo rural, noutros termpos era um elemento de culto aos mortos, onde se parava por um momento para deixar uma oração.
IRMÃOS
AJVDAÐ
NOS A SA
IR DESTAS
PENAS
Irmãos, ajudade-nos a sair destas penas
Inscrição em baixo-relevo, em pedra parcialmente soterrada, pelo empedramento da rua.
Fachada lateral do imóvel, no Beco da Lampaça, decorada com cornijas e gárgulas, além de cunhal e ombreiras em propianho.
Porta de entrada, acessível por escaleira lateral, feita em cantaria e ladeada por duas colunas trabalhadas, uma das quais a ser substituída por um caibro.

É provável que todo o trabalho de ornamentação, nas duas fachadas e na escaleira, não tenha sido obra de
simples pedreiro mas de mestre na arte de talhar e cinzelar a pedra dura.
Além deste antigo albergue, Roriz. aldeia de montanha, tem um vasto e rico património de arquitetura e cultura tradicionais, algum, aliás, bem preservado e restaurado.
Tudo continuará a ir pelo melhor se cada um zelar pelo seu património e todos pelo que é do domínio comum! Se a união faz a força, porque não seguir o lema "um por todos e todos por um"?
Não caberá à Câmara Municipal de Chaves, fiel depositária do património municipal, a iniciativa de restaurar o velho albergue, recorrendo, através de apresentação de projeto, a financiamentos da União Europeia, disponíveis para ações de valorização do património cultural europeu?
E porque não transformar a antiga escola primária, ao lado, há anos abandonada, em anexo de um novo albergue de peregrinos, adaptando os dois edifícios às necessidades culturais do século XXI? Ganhariam eco-turistas, caminheiros, peregrinos de Santiago, município de Chaves e União de
Freguesias de Travancas e Roriz!
Reconhecendo a importância da cultura no processo de unificação dos povos europeus, o Conselho da Êuropa instituiu em 1987 o Programa Itinerários Culturais, com o objetivo de conhecer, salvaguardar e valorizar o património cultural europeu, entendido como recurso importante
para o desenvolvimento social, económico e cultural. Os Caminhos de Santiago, pela sua importância na aproximação cultural dos povos europeus, foram a primeira rota a ser oficialmente reconhecida.
Em Portugal há itinerários identificados e demarcados. Porém, no planalto que vai da Pedra Bulideira a Travancas, apesar de existência do albergue de peregrinos em Roriz, e do santo ter o seu culto em localidades próximas - capela de Mairos e igreja de Tronco, onde é patrono - o estudo do itinerário jacobeu, nestas terras raianas, está por fazer, ser divulgado e oficialmente reconhecido.
No São Tiago vai à vinha e encontras bago! - diz o senhor Abílio Rodrigues, de Tronco, para justificar a existência do cacho de uvas na mão do padroeiro.
A desertificação demográfica das nossas aldeias é uma triste realidade. Não ficar à espera que poderes exteriores tragam soluções que contrariem o despovoamento do Planalto Ecológico de Travancas é o desafio que me proponho abraçar. Assim, para tornar a União de Freguesias em polo de fixação e de atração de pessoas, dou o meu contributo, batalhando, desde já, para colocar Roriz e Travancas no mapa dos Caminhos de Santiago! Vamos, de mãos dadas, empenhar-nos nesta causa, todos juntos!
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