Vigilância florestal no verão
Professor António Penso, no seu local de trabalho sazonal - antigo posto de vigilância florestal de Argemil - segurando na mão um rádio, instrumento de comunicação, essencial ao desempenho da função.
A torre está situada a 954 metros de altitude, perto das ruínas de Palheiros, junto à raia. O seu acesso, a partir de Travancas e Argemil, pode ser feito trilhando antigos caminhos do contrabando. Também se chega lá por estrada de terra batida, a partir de Argemil, de onde dista um quilómetro.
Do alto da torre, junto à qual existe um marco geodésico, avista-se uma paisagem magnífica. Olhando para além de São Vicente da Raia, em direção à Lomba e à Serra da Sanábria, em Espanha, a vista abarca um espetacular mar de montanhas. Bornes, a Serra de Valpaços e o castelo de Monforte de Rio Livre ficam mais para sul, à direita, na foto.
Quarta-feira, quando me encontrava no posto de vigia, onde me desloquei em bicicleta, assisti à mudança de turno. Chegando de trator, a esposa do senhor Manuel Santos iria assegurar a vigilância entre as 16 horas e a meia-noite.
Dona Alice Fernandes, uma dos quatro vigilantes que trabalham por turnos de oito horas, dia e noite, de julho a setembro. A ela e a outras duas senhoras de Argemil, assim como ao professor de Mairos, cabe a tarefa de comunicarem os incêndios à EMEIF - Equipa de Manutenção e Exploração da Informação Florestal - da GNR, do distrito de Vila Real.
Incêndio em Terroso, Espanha, dia 21 de agosto, pelas 16.h30, visto da estrada entre Argemil e São Vicente da Raia. Acabou por ser extinto, não atravessando a fronteira.
Neste dia, a dona Celeste Cruz detetou um incêndio em Roriz, usando a mesa de ângulos com monóculo, para tirar o azimute e a localização, tendo comunicado a ocorrência, via rádio, à GNR.
Clicar aqui para ver o significado de azimute.
Alertado pelo posto de Argemil, o EMEIF, para evitar enganos, antes de validar a informação recebida, pediu a sua confirmação aos dois postos de vigia mais próximos, um dos quais se situa na serra do Brunheiro. Às 16 horas, os bombeiros de Chaves já estavam em Travancas, à espera de ordens para atuar, enquanto um helicóptero sobrevoava a zona.
Este ano, felizmente, ainda não se registaram incêndios de grandes
proporções, ao contrário do que aconteceu no ano passado, em que um incêndio começou em Tronco e alastrou até à barragem das Nogueirinhas.
Nas torres de vigia, não é permitido o uso de televisor nem de computador portátil, para ajudar a passar o tempo. No entanto, os vigilantes nem sempre estão sozinhos, recebendo por vezes a visita de familiares. A dona Celeste sentia-se satisfeita por os três filhos lhe terem levado uns figuinhos e a acompanharem no regresso a casa.
Residência do antigo guarda florestal, em Argemil.
Enquanto o guarda policiava a floresta e as atividades nela desenvolvidas - caça e pesca nos rios - a esposa ficava no posto de vigia a observar ocorrências relativas a incêndios. Com a extinção do Corpo Nacional da Guarda-Florestal, em 29 de outubro de 2005, e a integração da policia florestal na GNR, a casa ficou desabitada, degradando-se com o tempo. Porque não utilizá-la como museu do contrabando ou da memória do mundo rural?
Conheci o professor, casualmente, numa tarde em que fazia vigilância. Sem saber que era docente, chamou-me a atenção o evidente conhecimento e carinho que devotava à história e cultura locais. Quem seria este homem que me falava, com desenvoltura, do Abade de Baçal? A comunhão de interesses aproximou-nos e levou-o a falar-me de si e da sua família.
Assim, fiquei a saber que, embora resida em Mairos, o seu avô paterno era natural de Argemil. Fiquei também a saber que a capelinha do Senhor do Socorro, à entrada da aldeia, foi mandada construir pelos tios e pai, para substituir uma, de menor dimensão, mandada erguer pelo avô.
Não podia terminar a postagem, sobre o posto de vigia de Argemil, sem a ilustrar com uma foto desta bonita urze florida, planta que, juntamente com a carqueja, recobre o solo ao redor da torre de vigia.
Cota de Mairos, aerogeradores, linha fronteiriça - a raia - Faceira e ruínas de Palheiros, vistos do posto de vigia.
Tão perto e inacessível!
Porque não descobrir Palheiros, brevemente?
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