Bem-vindo recuperador
Com a lareira da cozinha, eu tínha o pote da água quente, o fole, o trasfogueiro e as tenazes com que mexia nas brasas, enebriado pelo fogo purificador. Sobre elas punha a grelha para grelhar a alheira e o assador de castanhas, pendurado à cremalheira, decorada com a candeia.
A lareira acabou há dias. Tinha a magia que falta ao recuperador. Às vezes adormecia ao pé dela, enquanto aquecia os pés, calçados com meias de lã de ovelha, feitas pela tia Marquinhas, e viajava feliz pelo universo da memória.
Nos últimos dias da lareira, envolvido pela nostalgia da perda, li O Alquimista, do escritor brasileiro, Paulo Coelho. Comprei-o num alfarrabista, na Capital du Vin Bordeaux, onde estive recentemente. Tal como o alquimista procura transformar os metais em ouro, também eu devo descer à profundeza do meu Eu interior se quiser alcançar o elixir da vida ou Pedra Filosofal.
O recuperador quebrou o encantamento. A troco de mais calor e deixar de respirar fumo, fico afastado, sentado no escano, a olhar para o lume, sem poder ouvir o crepitar das chamas por trás duma janela de vidro baço.
As tenazes, o pote, o fole e o trasfogueiro morreram, relegados para o canto dos objetos inúteis. É um mundo que passa a pertencer ao passado, como o chiar dos carros de bois que se ouviam nas ruas da aldeia.
As tenazes, o pote, o fole e o trasfogueiro morreram, relegados para o canto dos objetos inúteis. É um mundo que passa a pertencer ao passado, como o chiar dos carros de bois que se ouviam nas ruas da aldeia.
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